SAMBA DO CRIOULO DOIDO: A ATUAL CONJUNTURA
SAMBA DO CRIOULO DOIDO: A ATUAL CONJUNTURA
Sérgio Marcus Rangel Porto foi um cronista, escritor, radialista, comentarista, teatrólogo, jornalista, humorista, ex-funcionário do Banco do Brasil e compositor brasileiro. Era mais conhecido por seu pseudônimo Stanislaw Ponte Preta.
( Wikipédia)
Para quem nasceu depois dos anos 60, saibam que nessa terra descoberta por Cabral viveu um intelectual ímpar, de uma sagacidade inigualável, com um espírito crítico ímpar. Sérgio Porto foi capaz, em plena época da revolução militar, de apontar as mazelas sócio-político-economico-culturais de nosso país e expô-las de maneira sutil, desnudando nossa sociedade com maestria. Não só o governo da época, mas também a nossa sociedade, Stanislaw Ponte Preta, seu alter ego e pseudônimo, retrataram as contradições, as injustiças, a corrupção que sempre existiu, a ignorância e os valores fúteis da maioria do povo brasileiro. O título desse texto é o mesmo de sua música mais célebre, que conta a história de um compositor de escola de samba especializado em história do Brasil, instado a compor um samba enredo baseado na situação do Brasil de então ( a atual conjuntura). O compositor, como todo brasileiro sem grandes conhecimentos históricos e políticos, acaba por montar uma verdadeira salada com os personagens brasileiros de todas as épocas, misturando Chica da Silva com JK, D. Leopoldina com Diamantina, Tiradentes com Padre Anchieta, D.Pedro I com Escravidão.
Amargamente engraçada, a música retrata, em minha opinião, a total falta de coerência da formação histórica de nosso país, o único no mundo que o proclamador de nossa independência foi o próprio monarca, que continuou reinando após “libertação” de Portugal. Sérgio Porto escreveu muitos livros como Stanislaw Ponte Preta, mas, a meu ver, sua invenção mais notória foi o Febeapa ( Festival de Besteira que Assola o País), onde Sérgio Porto lista as sandices que ocorriam em nosso país em termos político-culturais nos anos 60.
Hoje constatamos que nada de efetivo mudou, cultuamos os financeiramente poderosos, o futebol continua a ser nosso ópio, o carnaval aguardado ansiosamente é o extravasamento da alegria dos humildes, a impunidade cresce cada vez mais, nossos políticos só se preocupam em ganhar popularidade achincalhando a reputação dos adversários, não cultuamos a memória histórica. O brasileiro não lê, aprecia músicas de mau gosto, cria ídolos falsos, não reage às explorações e injustiças que sofre. O pior de tudo é calar-se sabendo que somos explorados de todos os lados, permitindo a criação de castas de famílias que se perpetuam no poder sem mérito nenhum. Estamos preocupados como devemos nomear as minorias, mas nada se faz para realmente alcançar tratamento igualitário para todos. Chega. Muito triste.
Como diria Paulo Brossard, “Tudo vai bem nessa sereníssima República”.