A gente não é para ser
A gente não é para ser.
Dói admitir essa verdade tão cruel. Mas é o que mais de real temos. É a nossa única certeza.
A gente não é para ser.
Ou é?
A ordem dos fatores não altera produto. Não se faça de desentendido, a gente sabe que você entende de matemática melhor que eu.
Você deveria saber também que não importa todos os textos que escrevi sobre nós, a carta que me escreveu, as nossas piadas internas, as selfies ridículas que tiramos, as inúmeras fotos minhas que lotaram sua galeria, os olhares que trocamos ou as risadas gostosas que o outro deu por causa de alguma piada ruim. Tudo isso se perdeu, assim como a gente se perdeu um do outro. Desafiar o universo não faz sentido algum.
Simplesmente porque a gente não é para ser.
Ou é?
Eu não consigo definir o que fomos na vida um do outro, entender como a gente chegou até aqui ou explicar como não demos certo. Eu só posso te dizer: não é para ser. Ou eu acho que não é para ser. Já que se fosse para ser, não seria tão complicado assim. Já estaríamos juntos, sem importar o que nos rodeia. Não seria errado sentir o que sentimos. Não seria tão difícil de lidar. Não seria tão angustiante pensar em não estar com você. Se fosse para ser, seria leve como a brisa que nos acalenta. Eu estaria te fazendo um cafuné. Seria simples como segurar tua mão. Seria bonito de dentro para fora. Mas não é. Ficaríamos juntos, não cada um em seu canto.
E eu tenho insistido tanto para no final ver que fui uma boba. Para que insistir em nós, se você mesmo já desistiu, não foi? Eu vejo o seu afastamento sutil. Eu sinto pena nas suas palavras dirigidas a mim. Eu sinto medo na sua voz ao se aproximar de mim, como seu eu pudesse te queimar. Eu sinto frustração quando você fala do nosso futuro, em que não existe mais espaço para nós. Eu sinto receio toda vez que você quer demonstrar qualquer sentimento. Talvez seja porque você tem medo de a represa em que comprimiu tudo o que sentia por mim se rompa ao menor movimento. Você não se permite sentir nem a menor esperança mais.
E eu não sei o que fazer mais. Eu não quero desistir de você porque dói. Mas insistir me dilacera mais. E eu não quero continuar me importando com você porque dói demais. Então, qual opção eu tenho em que não vá me deixar de coração mais partido do que eu já estou?
A ordem dos fatores não altera o produto. Sabemos muito bem disso.
Simplesmente porque a gente não é para ser?
Ou é?