Liberdade, use com moderação
Somos livres para agir e prisioneiros das consequências da ação.
Liberdade de expressar não é ter autorização para incitar à morte. Repudiar esse tipo de liberdade deve ser considerado como um ato de resistência. A tendência à violência deve ser esvaziada. Entre a tendência de ferir e a prudência de evitar, que a violência sucumba.
Não é um processo civilizatório lutar pelo direito de ser brutal. A democracia não consiste em autorizar a luta do outro pelo direito de ser assassino. Ainda que tal desejo não esteja sob controle, não deve ser incentivado. A democracia é o que permite, inclusive, que a maioria revogue esse direito.
Numa sociedade fragmentada, o desejo de mantê-la dividida é um direito universal. A barbárie não é digna de aplausos e a luta para que pessoas justas a autorizem é o método infame da covardia.
O que devemos evocar diante do clamor da luta por tal direito? Só o bom senso não basta. É preciso ter a real noção daquilo que estamos defendendo, porque depois de autorizado, não será fácil escapar ao direito do outro de ter a faca sob o seu pescoço.
Renunciar à violência também tem consequências e não devemos cair na tentação de querer seguir pelo caminho mais fácil. A violência do outro não te pertence até cruzar o seu caminho. Mas quantos hão de cruzar? Lutar pelo direito do outro ser violento é ser cúmplice das suas ações hediondas.
A sociedade que está em evidência não é a sociedade real, é apenas um fragmento. Qualquer tentativa de universalizá-la, não passa de mera ilusão. A sociedade real não precisa de holofotes e aplausos. A mediocridade é que está sempre sedenta de público. Por isso a violência é a rainha da publicidade. A sensação de que o mundo é um lugar onde o mau impera, se deve ao barulho que a violência causa. Há mais silêncio que barulho. O primeiro é onipresente, o segundo insuficiente.
Resistir à violência é a única garantia de que não seremos por ela vencidos. A violência não é um direito, é um crime contra a dignidade humana e assim deve ser tratada.