Existência Vã
Deitada sobre minha cama, quente, (a cama, ou eu?) a olhar para o teto, aparentemente, frio, o invejo. Invejo a forma como ele simplesmente é, sem precisar se preocupar em ser. Invejo como o sol toca sob sua pele (teto tem pele?) e o atravessa sem o penetrar, sem o esquentar.
Subo na cama, tento alcança-lo, e devido a minha grande elasticidade, o alcanço. Sinto o quente, mais quente que a cama, mais quente que eu. Concluo que ele não é frio, a propósito, não está frio. Invejei o irreal.
Deito novamente sobre minha cama, já não tão quente, e recosto minha cabeça no travesseiro onde meus pensamentos borbulham. Quantos tetos mal compreendidos existem por aí? Sob olhares precipitados, julgadores. Sem, aparentemente, vida, o consideramos frios, quando na verdade fervem para que não fervamos junto.
Me sinto como um teto, sempre pronto a abrigar e proteger, hora fervendo, hora congelando, porém sempre pronto a aguentar o pior, pelos outros. Outros, sempre os outros... E por que cargas d'água temos de nos sacrificar?
Tenho pensado muito sobre isso, sobre o amor, e sobre como isso muitas vezes faz nos sacrificarmos. Sacrifícios, dolorosos, porém, necessários. Mas e nós? Quem se sacrificará por nós?
Jesus se sacrificou. Mas essa ideia do sacrifício de Cristo ainda é tão vaga para mim, parece tão distante, outras vezes, inexistente.
Não posso pensar assim. Não posso ter dúvidas, não posso questionar? Tenho que me sentir como um cavalo domado que não pode olhar para os lados, não pode fazer suas escolhas, trilhar seu próprio caminho. Mas eu posso, eu sou um cavalo selvagem.
No entanto eu acredito em Cristo, e sobretudo, no amor que dizem que ele pregou, e viveu. O que eu não acredito, é em mim, e no amor que ele possivelmente sentiria por mim. A ideia de ser verdadeiramente amada, sem conveniências, sem atrações físicas ou intelectuais, só por eu existir, é muito difícil de aceitar, e compreender. Então como aceitar? Como acreditar?
Queria simplesmente não existir, não me sinto parte daqui, não sinto que deveria existir, mas existo. E por quê? Para quê?