Passado e presente

Entre passado, presente e futuro. Entre os sonhos de uma vida inteira, entre os sonhos que virão. Entre tudo que sempre almejei, entre tudo que pode ser. Entre o que esteve na terra e o que está no céu. Entre o que andou sobre as águas e aquele que anunciou o nascimento de Cristo.

O dia transcorreu sem alterações do previsto. Acordei exausta, dormi apenas duas horas. Tentei não pensar em você. Levanto, visto uma roupa, lembro que foi de presente. Falho no meu propósito de não pensar. Entro no ônibus, escolho a música, parece até piada do destino. Respiro. Coloco um podcast, afinal não pensar é o melhor a se fazer. Exatos 28 minutos ouvindo "Caliban and the witch", chego ao meu destino. As lembranças da última vez estão aqui. Do beijo da janela, do beijo atrás do pé de tangerina, do abraço na rede, do carinho nos pés, do meu deboche com a demora. De quando eu chegava e queria ir embora porque a dor me sufocava, do dia que atolamos na lama, do dia que corremos atrás do ônibus. Falho miseravelmente no meu propósito, não consigo parar de pensar em você.

Fico tonta e inebriada. Melhor me ocupar para passar. Lavo pratos, varro casa, início uma faxina sem fim. Como não pensar se minha playlist é toda sua? Como aguentar e não sofrer se oscilo entre "Você não me ensinou a te esquecer" e "Ainda é cedo". Coloquei o fone ao máximo. Na playlist de Lisbela e o Prisioneiro não encontro refúgio. Troco. "Como se diz eu te amo" volume 1 e 2 também não deram jeito. Exausta e cansada, já sentindo as dores físicas da faxina, deito e leio um livro para sair da ressaca literária, na metade do livro penso no quanto gosto de cozinhar para você, vou comer. Como meu macarrão com arroz para ser feliz. De sobremesa pudim. Piada né? Tudo me lembra você. Volto para o livro. Chego a conclusão que definitivamente "Quase casados" não foi uma boa escolha, mas saímos da recassa literária. Escrevo as metas para 2021. Coloco "Ser feliz no amor", só me diz como alcanço essa meta. O amor não é para mim. Deito novamente, durmo por exatamente uma hora e quarenta minutos. Acordo, é hora de ir. Preciso de um banho gelado, o tomo enquanto lavo o cabelo. Tento lavar de mim todas as lembranças, lembranças de você brincando com meu cabelo, lembranças de você puxando meu cabelo por vezes, lembranças de você chegando no escritório dizendo "seu cabelo está lindo", lembranças de você cheirando o cabelo. Saio do banho, penteio o cabelo e me visto. Fecho todas as portas e janelas. Fecho meu coração. Entro no ônibus e escrevo. Coloco uma playlist de MPB que eu sei que vai me rasgar por dentro, mas que diferença faz? O coração está em pedaços de todo jeito. Queria todos aqueles planos, só não sei quais.

Termino o texto ouvindo "Por enquanto". Por enquanto a minha vida segue em uma encruzilhada de sentimentos e dor. E de quem mais sinto falta, é do homem que não descrevi aqui.