LETRAS E NÚMEROS
LETRAS E NÚMEROS
Embora tenha trabalhado com números boa parte da minha vida, eles sempre me incomodaram um pouco.
Quantas vezes no meio da noite, em descanso, me via pensando neles, quase como numa compulsão. Depois de um dia de trabalho, os algarismos não paravam em minha mente, somando quantias, multiplicando parcelas, calculando percentagens, numa atividade que não me deixava pensar em mais nada.
Os números são frios e calculáveis. Sei que são úteis e não poderíamos viver sem eles; porém, são inalteráveis, não importando as circunstâncias, se está frio ou se está calor ou se é dia ou noite. Nada vai se modificar, 1+1 será sempre 2.
Os números são infinitos e imutáveis. Não gosto especialmente dos ímpares. Sempre que se dividem em dois deixam restos. Os pares, por sua vez, deixam casais absolutamente iguais, sem nada sobrar.
Prefiro as letras. São mais moldáveis aos acontecimentos. Exprimem sentimentos, emoções, a Vida e a Morte. Elas não são absolutas, formam palavras e descrevem um pensamento. Uma mesma palavra pode ter sentidos diversos. Uma vírgula ou a falta dela pode alterar um contexto ou mudar um entendimento.
As palavras podem ser usadas na prosa ou em versos, dependendo de quem as escreve ou para quem são escritas. Assim como os números, são usadas nas quatro operações fundamentais. Somam quando ajudam, diminuem se são ofensivas, multiplicam quando incentivam e dividem quando são controversas.
Servem para dar nome às pessoas e às coisas. Formam o idioma, expressão mais cara de um povo. São usadas no dia a dia ou em obras literárias. Expressam o Amor, a Dor, a Alegria e a Tristeza. Tem vida própria e sentidos diversos, dependendo da região em que são pronunciadas.
Os números são precisos e calculistas. As letras são sensíveis e mutantes.
Os números são a certeza. As letras são a busca.
Os números são conservadores. As letras são liberais.