É insuportável existir

Cansado;

Não um cansaço físico, tenho um cansaço mental que me aflige a tanto tempo que mais parece ser um fardo de nascença.

FARDO: "massa que exerce um peso sobre nós, uma força que age como um alicerce contra o movimento que fazemos com o corpo e a mente, de forma voluntária.

Inerte, encurralado, obrigado a reviver acontecimentos que marcaram minha vida e obrigaram-me a me tornar quem sou.

Estou completamente cansado. De tudo. De todos. Mas eu finjo sempre muito bem, eu aprendi a ser forte.

A vida te ensina sempre duas coisas cruciais que vai definir o seu caráter ao longo do tempo... Você é forte e bate ou então nego, você apanha, você é massacrado, subjugado; e cá entre nós, ser agrilhoado pelo sistema sendo um fraco é foda.

Sou tão forte quanto a minha menor fraqueza, daí entendo o quanto sou fraco, mas eu finjo, eu aprendi e me saio bem. Mas só eu e meus outros muitos eus sabemos o que realmente somos.

Esse emaranhado de fios soltos, essa bagunça desregrada, uma falha na matrix, somos tudo e não somos nada; as vozes ainda ecoam, ainda acordo no meio da noite ouvindo meu nome, ainda sonho com coisas que acontecem no dia anterior, mas eu finjo bem pra caralho.

Eu jurei que não voltaria aqui, porque perpetuar em palavras me faz entender que nada mudou, que eu apenas criei uma barreira alta demais, forte demais e que aqui dentro todos os anseios, todos os medos, todo ser vil ainda habita e a cada segundo tenta transponir essas defesas.

Eu sorrio, sou rio, sou menino;

Eu movia, via, vivia e isso foi tirado de mim ;

Pouco a pouco, gole a gole e eu sumi.

' Sumi dentro do meu próprio eu '

Estou cansado. Prestes a transbordar.

Estou farto, penso em parar, dói. Ser eu dói e não sei deixar de ser, sou por 30 longos e dolorosos anos. Durante todos esses anos tive dores e feridas que não foram curadas, não foram saradas, tenho cicatrizes superficiais que me fazem fingir ser forte. E eu finjo muito bem.

Mas apesar de tudo, estou cansado;

- Estou sozinho em um campo vasto, ouço apenas alguns ruídos, na minha frente existe uma barreira imensa, atrás também. Não consigo deduzir seu tamanho, mas ela corta as nuvens e vai além. Estou sentado, agarrando as pernas com os braços, olhando uma multidão que vive ao entorno dessa barreira inextinguível. Todos os dias eles falam, gritam, sorriem e eu continuo aqui; ouço apenas ruídos. Sempre ruídos.

Não consigo falar, não me ouvem.

O vidro é absoluto, nada é audível.

As vezes grito.

É insuportável existir e eu apenas existo.

É insuportável existir. É amedrontador, mas eu continuo existindo, arranhando algo por tantos anos sem se quer fazer nenhuma mancha.

É insuportável existir.

É insuportável viver mudo dentro de mim mesmo.

Paschoal George
Enviado por Paschoal George em 01/01/2021
Código do texto: T7149697
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