Chuva na praça

Aprendi que o bem estar é um exercício diário e que deve ser praticado constantemente até se atingir o “ar da graça” – como fala o pessoal da Igreja. E que se você ficar sem água as duas da manhã, você não toma banho pra dormir vindo da rua. Coisas ruins acontecem e porra, adivinha. As boas também.

Ver as coisas por um outro lado era meio louco pra mim e eu andava perdido, sem luz e sem perspectiva nenhuma. Tinha meus probleminhas de cabeça como todo mundo tem, mas tratei e hoje tô suave.

Revi velhas coisas e vi que muitas atitudes minhas me afastavam das pessoas, mas era realmente involuntário. E percebendo que reagiria de forma diferente hoje, vejo o quanto cresci como pessoa e como ser humano. Acho que isso é o mais importante né? Evolução, evoluir.

Ter suas nostalgias dos vinte anos, botar suas músicas e dançar bêbado na sala também fazem parte e sempre que tenho oportunidade faço isso – e se um dia alguém chegar a ler isso, tentem, de verdade. Mas tudo isso é você, é sua essência. É aquela faísca que corre nas tuas veias quando você tá pra morrer, ou pra gozar. A sensação da busca me instiga, e a sensação de se reencontrar em si próprio é um nirvana a parte.

Andei, Andei só. Mas não era natiruts que tocava. Tocava a alma que doía. Tocava a minha cara a chuva que caia. E perdido entre os faróis vermelhos dos carros, como teu batom que eu costumava borrar, chorei. As três de uma tarde chuvosa em meio a Praça Mauá, eu descobri que homem também chora. Tirei o casaco molhado e deixei a chuva cair em mim, e aprendi que o choro de verdade mesmo, não é aquela coisa de novela. É o choro de quem perde a alma e quer gritar mundo afora, mas foda-se, ninguém tá nem ai. Todo mundo já perdeu alguma coisa na vida, e eu, nessa brincadeira quase me perdi.

Quantidades industriais de álcool fizeram parte do processo, e muita mulher de vida fácil, ninguém é perfeito… E eu sempre escolhi do jeito mais difícil, porquê dá mais emoção. Mas, qualquer pessoa deve se prender ao que ela é de fato. E na real, não era eu.

Hoje eu prefiro ficar em casa e escutar minhas músicas, cuidar dos meus gatos e é só. Tô tirando mais tempo pra mim, vai ver por isso voltei a escrever, coisa que eu já não fazia ha anos – literalmente.

Ando me dedicando ao espanhol, e dando uma lembrada em gostos que foram se perdendo no meio do caminho. Aprendi a andar de longboard, e que a vida não é fácil e nem previsível. Andei por caminhos antigos e revi velhas pessoas, falei com velhos amigos. Reconstruí pontes onde haviam muros e descobri que nem tudo na vida é a “ferro e fogo” – aliás, nem a vida é assim. Redescobri lugares, conheci pessoas diferentes e todas elas agregaram um pouco delas no que eu sou agora, somos todos soma de outras pessoas.

E hoje, eu só quero me preocupar com o preço do óleo e com a conta de luz.

Marcos Tinguah Vinicius
Enviado por Marcos Tinguah Vinicius em 30/12/2020
Código do texto: T7147901
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