"Outrora" & "Agora"

“Devemos ler, e devemos lê tão somente o que há de melhor na literatura” – Harold Bloom.

Desejo expressar a seguir, nitidamente, como seu “Eu” de agora não se parece com o de outrora.

Prestes a morrer, o crítico literário Harold Bloom, começou a recitar trechos de Goethe, no original.

A pessoa que conheci anos atrás, entenderia o sentido desse gesto como de fato ele é: como a recusa da morte, tentativa de dignificar o momento mais vexatório da existência humana, onde nos deparamos com o limite de nossa finitude.

A de agora, talvez pensasse nele como algo supérfluo para alguém prestes a morrer - não seria melhor chamar um padre e fazer uma oração?

A impressão que tenho, é que você olha para o seu “eu” de outrora, como a criança que, antigamente, se divertia com um brinquedo e, hoje, já crescida, olha para esse mesmo brinquedo constrangida, como aqueles que eram os “coloridos” (tipo restart) na minha época, e hoje tentam esconder esse fato deveras embaraçoso ( Um deles, o leo stronda, hoje, inclusive, é fisiculturista)

Acontece que se for assim, esta ocultação de seu antigo “eu”, ao meu ver, faz com que você se desfaça, justamente daquilo que a torna singular. Hoje, suas ações, como a de não falar comigo diretamente, enquanto se confidencia com as minhas vizinhas vazias, sem significado, tornam-na simplesmente parecida com todo mundo: igual, semelhante, banal, comum, modesta, sem brilho, insípida, incolor (É preciso um grande acontecimento na vida, para fazer de uma pessoa especial).

Ouso dizer que se eu a conhecesse hoje, não teria por você os sentimentos que me levaram a escrever esse texto.

É claro, todos perto de você vão falar justamente o contrário: que está prestes a viver o auge de sua vida por se formar, que você irá ganhar “independência financeira”; vão dizer que você é linda, maravilhosa etc.. Mas, na verdade, no meio que viverá, terá uma miríade de pessoas, entre as quais você só será mais uma.

Sei que você também deve ter críticas sobre mim, com razão, devo admitir, mas o que não pode me acusar é de ter “mudado”, ou ter me passado por outra pessoa que não sou, visando te agradar ou conquistar, também jamais poderá me acusar de ter mentido para você, ou não é verdade?

No entanto você: faz uma escolha em benefício do seu “eu” de agora, em detrimento daquele do passado, o qual só persistirá na memória de quem teve o privilégio de conhecê-la, como eu, por exemplo. E é por causa dele que escrevo mais uma vez.

Lendo-me, você poderá achar que meu objetivo não é outro senão o de te magoar, mas se ainda houver em você resquícios daquela menina singular do passado, que até tenha se sentido meio deslocada em relação ao seu convívio social - se subsistir em você ainda ela, saberá que é justamente o contrário.

Mas choro quando penso em qual seria seu verdadeiro eu; pois o busquei, mas não o encontrei. Mesmo assim continuo a amando, um amor talvez semelhante àqueles que são fascinados por fantasmas, embora ninguém comprove que existam.

Outro exemplo: vi uma foto de garotas perfiladas horizontalmente, na qual você talvez esteja entre elas. A opinião de que fiquei, é que até fisicamente você parece ter mudado; apesar de que nem uma imagem muita clara da sua aparência tenho em minha cabeça atualmente. Se vc passasse na minha frente, muito provavelmente, não te reconheceria. E como ousamos falar que estamos apaixonados um pelo outro? chego a pensar. Não é estranho? Não é a comprovação que estamos apaixonados, na verdade, um pela essência do outro?

Ou será que eu não estaria forçando a barra, afinal? E aquela pessoa que procuro, talvez, como até você disse, nunca tenha existido?

Não, nada disso! Estou convicto de que você é especial, que amo a sua ESSÊNCIA, e que, uma vez estando juntos, viveremos por longos anos felizes. Só não sei se estou errado =( .

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 29/12/2020
Reeditado em 30/12/2020
Código do texto: T7147055
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