A vontade e o gênio
Se fazia mais gênios antigamente? Nascia mais gênios antigamente? Ou as condições culturais (filosóficas, logo políticas, e social, como senso comum) favoreciam? Vejamos, hoje em dia temos como pano de fundo filosófico para nossos pensamentos, a maior parte como senso comum, ou até em pensadores profissionais, o relativismo pela confusão entre cultura e moral, e pela física moderna, em mais específico a teoria quântica, que nos trouxe uma ruptura epistemológica, a mudança do paradigma do determinismo clássico, até mecanicista outrora, para uma visão mais probabilística, imprecisa, e com grande papel do observador (sendo aparelhagem altamente complexa) na medição. Mas sem precisar ir tão longe, até no desenvolvimento da teoria da relatividade restrita temos um fator altamente relevante em seu desenvolvimento, uma variável que é nesse contexto universal, que é o observador em diferentes referenciais. Temos o perspectivismo com filósofos da suspeita como Nietzsche, ou até mesmo Schopenhauer, sua grande inspiração outrora, tendo a posterior a tentativa de superá-lo (Édipo). Com Schopenhauer o papel da vontade é de grande importância, que se tirada do seu contexto nos trás o superar-se-á que é viés pulsional. A vontade que transcende o instinto e o princípio da razão se faz por uma sublimação quase que perfeita que se dar apenas pelo conhecimento de ordem intuitiva, quase que como o conhecimento a posteriori do corpo e a priori da vontade, pela consciência do abismo ou vazio, que é o desejo. O desejo por si só não é nada, o desejo é nada mais que produções oníricas de fantasias pré-consciente, claro, em grande parte distorcidas a tal ponto que o real objetivo se assemelha a alucinações paranoides. Por conta das mudanças históricas, culturais e obviamente filosóficas que passamos, pensamos na verdade mais como uma opinião (pistis) do que episteme, dado a impossibilidade de reconhecer o noumena, ou até mesmo jogos de linguagem (objeto/linguagem e contexto, sendo aporético dado a sua descrição assertiva !?). Chegamos a ver o mundo de fato como uma projeção, chegamos até a duvidar do outro e do mundo com a filosofia de Descartes, com o seu excesso de racionalismo, e ceticismo como método. Porém, com o avanço da ciência moderna, em grande parte por causa dos ideais iluministas, e até a fé positivista, com seu historicismo, e superficialidade analítica em uma tonalidade tão absurda que chega a camuflar o Marx, hoje, bem mais que antes, temos o fetiche da validação científica, esquecendo que temos agnosticismo em quase tudo, em grande parte, pela grande aceitação da teoria kantiana, que se dar pelos juízos a priori, e a posteriori, universal enquanto epistemologia do Homem, e não puramente conveniência da moral dos fortes (valorar), ou moeda de troca, que tão bem destacou Nietzsche. O dualismo tão presente em Platão já não se dar de uma forma tão intensa como antigamente, principalmente quando se trata de cérebro/mente, não só pelo avanço da neurociência, mas sobre esse tema a grande antecessora ser a psicanálise, onde a relação com o corpo, ou como o indivíduo interpreta aquela somas de excitações do quantum de afeto, dado seus traumas como desejos recalcados já do Édipo, a imagem do braço distorcida, etc... A paralisia histérica, não era possível para Freud explicar como lesões cerebrais, sendo que hoje sabemos sobre a plasticidade regenerativa. Temos o sintoma como uma dica de algo a mais e aí descobrimos o sintoma como gozo, daí as fantasias "inconsciente" (que a posteriori será pré-consciente) do Édipo e o princípio do prazer. Teremos bem a posterior os mecanismos de defesa, o aparelho psíquico e as instâncias com as pulsões. O elemento aristocrático em Nietzsche está equivocado, dado a utopia que é pelo factual que é as duas pulsões, ou até mesmo, pelo trágico que é a vida, e aí não somente em Kant, teremos também em Schopenhauer a valorização da Moral cristã, que obviamente não é atoa, o quadro da condição humana que os livros sapienciais nos coloca é de uma profundidade avassaladora. Talvez também pelo fato da eudemonología de Schopenhauer reunir vários pensadores, a grande maioria da corrente do estoicismo, nos der uma validação ainda maior pelo simples fato de que a vanitas, o desejo que nunca cessa, a ataraxia, o equilíbrio, o domínio da vontade sobre o princípio da razão, e o princípio da realidade, a sublimação, serem as mesmas ideias redescobertas por diferentes pensadores, influências, e escolas, repetidas até hoje, isso no mínimo deveria nos deixar em alerta, até porque essa validação também pelo quadrilátero do conhecimento é proferida por uma das sete grandes escolas da psicologia, a psicanálise. Então, voltando a pergunta inicial, talvez tenhamos esquecidos de uma das máximas da filosofia clássica, "Conhece-te a ti mesmo", talvez para começarmos a pensar de uma forma mais precisa, deveríamos antes, conhecer nossos vieses, desejos, projeções, e traumas... Nesse ir que fomos, e estamos indo, criamos uma ilusão útil, do bom, do legal, que nada mais é que ressentimento em Nietzsche, ou até mesmo pela limpeza que tanto pregamos, o "sexo livre" ditado com quem e o medo do Outro, nos remeta a neurose obsessiva com Freud. A superficialidade das relações já apontado por Bauman se dar pela horizontalidade que é a água, ao contrário da verticalidade que é o fogo. A importância da mitologia na Grécia, ou até mesmo as tragédias de antes, se davam pela profundidade da descrição simbólica para com os sujeitos e as relações e não como uma religião fundamentalista, era alegórica, e não apofântica. A afirmação da vida se dar apenas pela afirmação do sujeito, do irredutível, que se dar apenas pelo conhecimento mais profundo do quem sou, que supera o superficial que é o Ego, e que nos remete a introspecção profunda, apenas como meio para algo além, a sublimação disso, e não daquilo. E aí teríamos a posteridade não como superficialidade na projeção narcísica, mas a profundidade da relação com você mesmo e o Outro. Você mesmo não é o agora, e nunca é o agora, dado a verticalidade da filosofia clássica (alteridade). A horizontalidade é por si só rasa, pois se baseia em uma pretensão narcísica de maior igualdade, que só brota pela ignorância do que é o vertical, dado a ignorância do quem sou. Abrindo portas para o ressentimento, dado a imperfeição que sempre é o fora, a impossibilidade de conhecer o Outro, de convencer e mudar, dado a trave no teu olho. A posteridade não é brincadeira, a política não é um jogo de gabinete, e a profundidade do EU, se dar apenas com o fora sublimado, a identificação para com o que faço, é o que sou e o outro se beneficia do que faço almejando o que não sou. A visualização o tempo todo do não ser, a projeção ressentida do que não sou, e não faço, são sinais claros de que não "alcançamos" o irredutível, pois nem do Ego passamos, dado a impulsividade, o medo do outro e o prazer imediato e o tempo todo, que nos remete a não aceitação da pulsão de morte. Vivemos em um mundo abaixo da média, onde até os medianos que fazem seu trabalho são ridicularizados, menosprezados e humilhados. O contado mais íntimo consigo nos põem sempre em direto contato com a morte. O arranjo cultural, político e filosófico que tínhamos na Grécia antiga, e no classicismo, nos remete, antes de tudo, a um arranjo não desviante da psique, pois não só prático, mas profundo; pois não felicidade e tristeza, mas estável. Pois não caos, mas teleológico e como prova temos Bach, Mendelssohn, Mozart, Beethoven, Schubert, Liszt, Brahms e muitos outros, contemporâneos, vizinhos de data de nascimento ou morte, amigos, admiradores um do outro ou não, cada um com sua forma musical, cada um com sua história, mas todos com o nível semelhante de dedicação, e propósito no que tange a identificação com a música, que brotou desde a infância, e que foi instigado desde então. Respondendo a pergunta, existia mais gênios antigamente porque existia mais indivíduos.