Quem somos?

Eu cresci em uma cidade pequena, aquele famoso interior, como a cidade pequena tem pouca variedade, eu sempre fui trajada como bonita, isso nunca me trouxe privilégios, apenas uma certa popularidade, que também por ser interior facilita.

Cresci praticamente a minha adolescência inteira, escutando elogios só relacionados a beleza, nunca ao meu jeito, adjetivos como "você é mas bonita de corpo que de rosto" outros "você é mas bonita de rosto que de corpo" e sempre me senti como se não me enxergassem.

Quando me mudei para cidade grande, isso tudo mudou, ainda recebia elogios pela "beleza" física, só que no entanto, não era mas só pela "beleza" era como se pela primeira vez, pudesse ser eu, sem o corpo ou o rosto.

Confesso que no início me senti mais uma, como se perdesse aquele toque "especial", só que com o tempo pude perceber que ser mais uma, não era tão ruim, pelo contrário era a primeira vez que poderia ser só eu, não mas a bonita, a gata da sala, a bela do rolê, era só eu e isso foi libertador.

Isso me fez refletir, sobre quantas vezes na vida, só enxergamos o outro, sobre a lente do físico, a tanta beleza em frasco não muito atrativo, a tanto conteúdo em frascos chamativos. Há um coração, uma personalidade, uma história. É preciso desembrulhar a embalagem, para então ter clareza da verdadeira beleza. A beleza de quem somos.

Cynthia Thayse
Enviado por Cynthia Thayse em 15/12/2020
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