O nosso fim
Sabe, muito tempo depois que terminamos, voltei ao nosso apartamento. Estava tudo muito silencioso e escuro. Parecia o ambiente perfeito para mais uma daquelas suas histórias favoritas de terror. Os móveis estavam empoeirados e o nosso gato continua na casa da minha mãe, assim como eu. Vim ao nosso apartamento para me desfazer de tudo o que ainda me prende a você e a nossa história. Vou encaixotar tudo e te devolverei tudo o que for seu. Sei que já faz muito tempo desde o nosso fim. Eu não sei se superei ao certo, mas quero acreditar que estou bem sem você. Voltar ao nosso lar me trouxe de volta as boas e más lembranças. Fomos felizes, mas o nosso amor não foi o suficiente para nos fazer ficarmos juntos e termos o felizes para sempre. Guardei seus livros e discos em caixas separadas – sei como gosta de tudo organizado. Coloquei sua xícara de café e o bule que era da sua vó em uma caixa e escrevi “frágil”. Embalei os seus quadros e guardei as suas velhas tintas – e eu espero que continue pintando. Após algumas horas, tudo o que é seu estava encaixotado. E me bateu uma desesperança. É triste olhar essas caixas e te ver reduzida a alguns objetos. Como uma pessoa, que já foi a sol da nossa vida, pode ser encaixotada e pronto, não fazer mais parte da nossa vida? Me desculpe – eu não deveria ficar assim. Sei que foi o melhor para nós dois. O mais curioso é que achei o bilhete que você escreveu para mim e nunca tinha visto, em um de seus livros. Você nunca tinha escrito nada para mim – apesar de eu sempre escrever para ti (e você levou todas as cartas com você, pois não achei nenhuma aqui). O bilhete é lindo. Eu chorei. Não exatamente pela mensagem, mas pelo significado. Ele diz muito sobre o que fomos. Não as palavras, que eu conhecia. Não pelo sentimento, que eu sempre vou sentir. Mas, como eu notei, eu não conhecia a sua letra e não a veria mais, assim como você.