Desconcerto de um jovem escritor
Por mais nítidos que sejam os conselhos dos grandes mestres, por mais precisas que sejam as instruções, por mais amplo, largo, iluminado e seguro que pareça o caminho, não é possível evitar a hesitação. A condição humana exerce sobre os homens um peso permanente e, por vezes, sufocante. Seria um erro ignorar a intuição, essa força misteriosa que se movimenta nas profundezas da consciência. O escritor entende que precisa domá-la, dirigi-la, ordená-la; percebe que o único propósito da sua existência é levá-lo ao entendimento da realidade. Então, ele começa por observar. Perceber o movimento das coisas, captar o seu sentido, o seu vetor. Mas, novamente tudo cai numa espiral de desarmonia e desassossego, parece mesmo não haver solução. No entanto, um pensamento antigo toma forma, uma meditação tantas vezes realizada pelos que viveram no passado se manifesta: se tudo o que existe está em movimento, então há algo que sustenta, que faz subsistir todas as coisas no seu movimento. Se o escritor acredita que rezar é perda de tempo, então ele não entendeu sequer uma porção infinitesimal do funcionamento da estrutura da realidade. Deus é a causa eficiente das coisas, a força que traz as potências à atualização, é o que mantém vivo o movimento. Mesmo que, no transcurso de uma vida inteira, o escritor rezasse apenas uma vez, mas fosse atendido, o tempo de negligência teria sido suprimido, perdoado. Enquanto o homem for homem, rezar e estudar serão sempre o antídoto contra o caos.