pretérito que aporrinha
Os discursos apelam para o retorno
Mas não posso retroceder
Mesmo que alguns passos atrás melhorem a imagem, o semblante
Onde fica a alma?
Enclausurada em um corpo que já nem é meu
Desapropriei-me
Vago sem roupagem
Desconheço a face, o escudo
Ou só ficou a defesa?
Função sem morfologia
A ponto de ter que quebrar todos os espelhos
Toda imagem especular ruiu
Pus de lado tudo aquilo que lembrava a mim
Até o que havia de mais palatável
Mas as lembranças são almas ensandecidas
Reclamam seu lugar
Misturam novas figuras
Convocam ideais
E eu vou cedendo
Mentalmente vou confrontando
Confronto-me
Decalco-me
Vejo cada contorno da distância
O agora, embora resistente, ainda é escravo do momento pretérito
E vejo passos, escadas, passagens, pontes
Onde deixei o movimento?
Em que labirinto perdi a essência?
Ficou num lugar sem elã
E recuperar é um passo em falso
Pois preciso que o pretérito segure aquilo que já não mais dou conta