Então é Natal! Que seja cheio de união...
O amor pode nos levar a outra virtude ainda tão poderosa e enriquecedora quanto o gesto de amar. Uma atitude que sara feridas, que cura dores, que seca lágrimas, que junta as mãos, amarra os corações e faz os sentimentos, as experiências e cada dor ou prazer serem compartilhados, vividos juntos, saboreados em comunhão. É a união. Que esse natal nos encha de união, nos incentive a vivermos assim, unidos, juntos, cientes de que cada um de nós temos responsabilidade sobre o todo que formamos, o todo humano, a esplêndida humanidade.
Nesse ano de 2020, desafiados de tantas formas, também tivemos a sorte de ver um gesto mais lindo que o outro, um gesto mais solidário que o outro, experiências especiais nas quais muitos deixaram de lado a concorrência, a rivalidade, suas diferenças para que pudessem alcançar algo maior, mais intenso, que proporcionasse conforto para além dos próprios interesses. Doações, palavras de conforto, pessoas que pararam parte de seus dias para oferecer mensagens de consolo, para compartilharem a esperança de dias melhores que muito em breve serão realidade. Assistimos a muitas manifestações de afeto e união, todos estivemos sensibilizados pelas dificuldades sociais que não afetaram apenas este ou aquele, mas a todos de uma só vez. É claro. Alguns sentiram efeitos mais profundos que outros, alguns sentiram desconfortos mais angustiantes que outros, mas muitos tiveram o prazer de desfrutar de ajudas inesperadas, auxílios desprovidos de condições e uniões nunca antes pensadas.
Nem todos agiram assim, o que é uma grande pena. É lamentável que ao longo da história da humanidade muitos de nós não tenham conseguido compreender a importância, a beleza e a suavidade de uma vida compartilhada em conjunto, vivida em união, apreciada em concordância com outros. É uma pena que muitos de nós não tenham conseguido superar as diferenças, entendê-las como necessárias, não perigosas; belas, não repulsivas; enriquecedoras, não como motivo para intolerâncias e violências. A união nos faz enxergar que não importam nossos posicionamentos, nossas condições, a forma como expressamos a nossa essência através da existência que nos foi ofertada. A união nos permite entender que teremos maneiras distintas de trilhar um mesmo caminho. Esse caminho se chama Vida. Cada um passa por ela como melhor lhe agradar.
Mas nos lembremos da figura que inspira essa data tão especial e marcante a grande parte da sociedade. Torno a dizer que nesse momento não precisamos defender essa ou aquela fé, essa ou aquela forma de acreditar, basta que nos permitamos a um momento de reflexão proporcionado por uma época na qual nossos sentimentos se afloram, sentimo-nos motivados a sermos gratos por aqueles que caminharam conosco os doze meses de um ano que se finda, que enxergaram nossas lágrimas, que assistiram nossos sorrisos e que nos abraçaram quando apenas um abraço sincero pôde reconfortar nossas almas atribuladas.
Jesus nos ensinou para que amássemos as pessoas, para que as perdoássemos quantas vezes fossem necessárias, que não fizéssemos conta de quem pudéssemos ajudar ao longo do caminho e, dentre tantos outros ensinamentos e o que para mim é o mais importante, que não julgássemos a quem quer que seja. Tudo isso só é possível se estivermos vivendo com um firme propósito de união dentro dos nossos corações. Aquele propósito que nos faz ver as pessoas, não os seus erros, as almas, não seus defeitos, que nos faz enxergar alguém que todos os dias trava uma batalha enorme para ser melhor, mais feliz, para ter uma vida satisfatória. Por que não nos unimos nessa empreitada? Não estamos nós na mesma condição? Não experienciamos cada dia na esperança de terminá-lo melhores do que o começamos? Não desejamos ardentemente por razões para sorrir e agradecer? Acredito que nossas conquistas seriam facilitadas se ao invés de tantas dissensões e segregações nos preocupássemos em fomentar uniões e compreensões, que nos considerássemos como seres humanos em construção, buscando pela sua melhor e mais preciosa versão.
Desejo que essa união seja de fato vivida. Adianto que isso não é fácil. Para viver em união, seja na forma de relacionamento que for, se entre pares românticos, se entre pais e filhos ou se entre amigos, não basta estarmos todos juntos numa mesma casa, num mesmo parque, num mesmo refeitório, isso é agrupamento. A união nem requer presença física, apesar de também existir nela. Viver em união quer dizer que vamos nos conectar, que vamos fazer o possível para que a dor do outro seja sentida em nós, talvez não literalmente, mas simbolicamente, de maneira que o desconforto do outro cause nosso incômodo e nos incentive a estender a mão. A união também requer que nos desvistamos de egoísmos, de egocentrismos, de individualismos, de desejos mesquinhos e soberbos de querer tudo para nós mesmos, a união exige que consideremos a existência do outro tão valiosa e digna de respeito quanto a nossa. Para que a união aconteça é necessário que possamos entender a importância de ouvirmos, de darmos atenção, de darmos espaço para que o outro apareça com suas necessidades, com seus sonhos e com tudo aquilo que tem a nos ofertar, mesmo que coisas simples, mesmo que coisas aparentemente rústicas, sem significado, mas que, quando vistas com os olhos de união, se tornam riquezas inigualáveis.
Que essa união seja semeada na mesa de nossas ceias, que ao longo dos dias ela possa romper o solo de nossos corações e florescer com toda sua formosura e grandeza, oferecendo sombra ao acalorado, refresco ao sedento, conforto ao cansado. Não dizem que a união faz a força? Acho que está mais do que na hora de finalmente entendermos o que isso quer dizer e colocá-lo em prática.
Então é Natal! Que ele nos presenteie com o poder da união!
(Texto de @Amilton.Jnior)