LINGUAGEM NEUTRA: A TIRANIA DA IMBECILIDADE.

A linguagem é certamente uma das mais complexas criações humanas. Nela, os seres humanos conseguem através da simples emissão de som, ou da escrita de determinados signos (letras), comunicar-se com os demais. Se pararmos para pensar, a linguagem, no sentido básico, não tem qualquer sentido se lhe for arrancado o significado que lhes é empregado coletivamente. Por exemplo, se quando falo B-O-L-A, quem ouve a palavra não imaginar um objeto circular que geralmente é usado em jogos esportivos, tal palavra nada mais é que meros sons jogados ao vento. Seria o mesmo que dizer: por favor, pegue o L-A-F-R-I-T-O-M-A-S-Q-U-E? Se você não se perguntar ao menos “que diabo é isso?” eu diria que a sua pessoa tem sérios problemas, pois tal palavra não existe. Ou seja, mesmo que pela força da imaginação eu criasse uma palavra nova e se outro grupo de pessoas não soubesse o significado dela, certamente não estaria fazendo uso de uma linguagem, pois teria perdido sua função óbvia: a Comunicação. Desta forma, só há linguagem quando há aceitação de um determinado grupo social.

Pensemos ainda sobre outro ponto: toda linguagem é volátil, correto?! Depende! Se você fala que pequenos termos da linguagem variam conforme região geográfica, faixa etária, grupos étnicos e etc. ou que várias línguas descenderam do Latim em um período demasiadamente longo e por tanto a língua muda, teria que concordar com você, contudo, se percebermos que há cerca de 500 anos falamos o português no Brasil ao ponto de conseguiri ler com facilidade a carta de Pero Vaz de Caminhas ao chegar em terras tupiniquins, então, vemos que a linguagem é puramente resistente, e portanto, não tão maleável assim. O que quero dizer com tudo isso, é que se um bando de alienígenas ou de esnobes quisesse nos ensinar palavras novas ou outra espécie de linguagem isso ocorreria em um processo relativamente longo, seja por aceitação ou imposição (a segunda é historicamente mais rotineira).

Agora vamos nos ditos “pingos nos Is” de uma forma bem conservadora com seu estilo clássico “frio e agressivo”: Linguagem neutra nada mais é que a tirania da imbecilidade! A imbecilidade é a principal característica da falta de reflexão e senso básico de juízo. Se no período iluminista alguém dissesse que iria apresentar uma nova linguagem dita neutra, no mínimo eles iriam sorrir e perguntar: há qualquer razão em uma linguagem ser neutra? Se a linguagem existiu exatamente para distinguir coisas, porque iria querer nada distinguir com pseudoneutralidades? Vejamos o porquê a linguagem pseudoneutra (farei uso apenas desse termo a diante) além de ser fruto da tirania da imbecilidade é equivocada em seus fins.

Em relação a sua proposta tirânica e imbecil, a linguagem pseudoneutra se equivoca ao achar que fazendo uso de supostas palavras neutras (sem distinção de gênero) o mundo seria menos preconceituoso. A verdade é que mudando palavras, apenas se transfere o preconceito de uma palavra para a outra, visto que o preconceito é uma questão de falsos conceitos, de crenças e sentimentos, sendo que as palavras apenas expressam tudo isso. Arrancar palavras do vocabulário de alguém, desta maneira, não irá impedir que o mesmo exerça ações homofóbicas, machistas e misóginas (para usar palavras “moderninhas”), ou, ao menos, que impondo novas terminologias irá fazer das pessoas indivíduos mais respeitosos. Certo sábio antigo disse: “a boca fala o que o coração está cheio”, e não se esvazia o coração decapitando palavras, mas se enche o coração de coisas boas para transbordar em palavras.

Outro erro colossal da linguagem pseudoneutra é achar que a língua só faz distinção de gênero masculino e feminino por ser preconceituosa com as pessoas de “gênero neutro” (termo inventado recentemente para dizer “nada com nada”) e por seu vocabulário ser expressamente machista por ter palavras de gênero masculino que representam pessoas, animais ou seres, sem distinção de sexo. Questionam: por quê se em uma plateia tem homens e mulheres as pessoas dizem “sejam TODOS bem-vindos”? Qual a razão de “todos” e não “todas”, ou ainda, “todes” (pronome pseudoneutro)? O problema está exatamente em que da mesma forma que existem palavras masculinas que servem para todos os gêneros, há palavras femininas também. A própria palavra plateia é feminina para designar grupos sem distinção de sexo. E o que dizer de alcateia, assembleia, bancada, congregação e tropa? Zero machismo, dez imbecilidade.

Alguém já deve estar mordendo os lábios para dizer: Você está invertendo tudo! A proposta da linguagem neutra não é dizer que a língua precisa ter apenas opções de vocabulário feminino, mas que não deve haver distinções entre palavras masculinas e femininas, ou seja, as terminações de palavras em “o” ou “a” devem ser substituídas preferencialmente por ‘i”, “e”, e as vezes por “u”, como “aquiles”, “tempe”, “todes” e “elu”. Muito bem “cara pálida” (e alguém já toca a buzina para dizer que sou “indigenofóbico”)! Palavras terminadas com “e” e “i” também podem não ser neutras. O que dizer de “Monte” e “plenitude”, “Abacaxí” e “lei”? Nesse caso, por exemplo, se substituo a letra “o” por “e” na palavra Monte, não se tornaria “mente”, que obviamente já tem outro sentido. Trocando em miúdos: a linguagem pseudoneutra só consegue mais confusão do que solução, e se a linguagem é para confundir a comunicação, então brinquemos de “telefone sem fio” que tem mais proveito.

Alguém pode recrutar: Não são todas as palavras que precisam ser modificadas para linguagem neutra, mas apenas alguns pronomes, adjetivos ou palavras-chaves como “aquiles”, “elus”, “esperte”, “bonite”, “todes” e etc. A questão é: Quem irá determinar dentre as mais de 400 mil palavras do português (o dicionário Houaiss de 2011 listou mais ou menos essa quantia)? o que deverá ser mudado ou não? Como a população brasileira com 200 milhões de habitantes, ou melhor ainda, todos os países falantes da língua portuguesa, que é a 5ª mais falada do Mundo, irá aceitar tal mudança? Será por imposição? A verdade é que linguagem pseudoneutra, nada mais é que proposta de “gueto elitista entediado”.

Para finalizar, a linguagem pseudoneutra além de ser imbecil por propor a confusão e o término da eficácia da língua, ser tirânica por ser impositiva de uma elite “instruída e entediada” em relação a mais de 200 milhões de pessoas, também é equivocada em relação a seu objetivo. Se o objetivo da linguagem pseudoneutra é tornar um mundo melhor, mais igualitário, mais justo, acessível e com menos preconceito, seu objetivo está fadado ao fracasso total. Primeiro, como disse outrora, por ser impositiva (de cima pra baixo/ da elite para o povo), segundo, por tornar um maior abismo de classes entre os “instruídos na linguagem” e os “desabilitados neutrofóbicos”, terceiro, ao invés de tornar a linguagem melhor, torna-a mais confusa e problemática, quarto, gera mais preconceito para com os de necessidades visuais (cegos) pois terão mais dificuldade em distinguir objetos, pessoas e localizações. Por tanto, se a linguagem pseudoneutra quer contribuir com o mundo, o melhor que poderia fazer seria embarcar na caverna do dragão, e assim como os meninos perdidos, deixar o Mundo real para os que lá estão.