J. Uma simples letra, e ainda assim...

Sabe aquelas pessoas que te fazem lembrar da citação / pergunta ‘O palhaço faz todos rirem, mas quem faz o palhaço rir?’ ?

Pois bem, ele me lembrou essa citação.

Desde o início.

Sorriso solto, conversas incansáveis, a euforia de conseguir contato com alguém há muito desejada...

Me ouvia e se fazia ouvir, sem medo, sem julgamento, apenas boa vontade.

Promessas e risadas, carinho e invasão, em forma de mostrar afeto e desejo de estar perto.

Me contou segredos e eu contei os meus. Sem medo de uma possível represália, apenas abertos, seja via mensagem ou pessoalmente, à meia luz, no meu quarto.

Ouvimos um ao outro, e concordávamos e discordávamos prazerosamente.

Até que um dia, breu.

Escuro como uma noite sem lua, sem explicação. A ausência me afetou de um jeito que eu não esperava.

E assim como foi, voltou.

E eu, mesmo com receios e com minha mania de rejeição (antiga amiga), aceitamos novamente.

Pontuava aqui e ali (às vezes, mais do que só aqui e ali), a mágoa causada, de forma a prevenir que acontecesse novamente, e li e ouvi dezenas de vezes a mesma promessa, a mesma certeza, o mesmo pedido.

Acalmei e aceitei.

Mas percebi um certo padrão, querendo tomar conta novamente. Tentei ignorar, mas era demais. Apareceu, e mais uma vez, me vi inclusa em uma trama que não era minha, mas que me afetava, mesmo que indiretamente.

Tentei forçar uma abertura, tentei lembrar de que da mesma forma com que ele gostava de ajudar, eu queria fazer isso por ele, disse que se ele atravessasse teias de aranha, seria sua, e ouvi, na época, a promessa de atravessa-las. Confiei. Esperei. Mandei o que sentia. O que queria. Pedi que ficasse.

Mas acho que não sou o suficiente pra que atravessem teias de aranha por.

Não posso deixar de me sentir culpada, de sentir que sou a causadora de dúvidas e medos.

Isso me apavora.

Porque eu estava pronta pra dar um passo adiante, e me vejo forçada a recuar pelo menos, 3 passos. Isso me mata.

‘Não é culpa dele, não é culpa minha’, tento me lembrar, enquanto choro baixinho, às 4 da manhã, no escuro azulado do meu quarto.

A rosa vai morrendo, e com ela, sinto que nosso tempo vai acabando. Quero prolongar a vida dela, quero fazê-la renascer. Mas somente em um vaso com água? Será o bastante?

Será que mantive nosso relacionamento em um vaso d’água, quando deveria ter plantado num vaso?

Não deixo de me questionar os ‘E Se’, tentando ver onde, exatamente, deixei de prestar atenção, onde perdi uma vírgula, tentando analisar se éramos mesmo tão diferentes, tão opostos, como ele gostava de dizer.

Nunca gostei de opostos. Diferentes demais, gerando atrito demais, mentes longe uma da outra.

Mas ele dizia que éramos complemento, e que nos atraíamos.

Quando ele está aqui, sinto que podemos superar muitas coisas, ele me passa a impressão de que tudo (ou a maioria das coisas), acabará bem, de uma forma ou de outra; mas quando ele vai, sinto que a distância entre nós aumenta a cada minuto.

Eu não contei algumas das coisas aqui relatadas, mas acho que ele sabe.

Posso me irritar, falar palavras tortas, mas quando ele dorme, eu fico olhando cada detalhe dele, desde os cílios enormes, as unhas que ele cortou em meu agrado, o jeito que dorme, até o nariz pontudo. Estranho, sei, mas eu e minha insônia não achamos muitas coisas pra fazer, então acabo olhando..

Pensando e tentando assimilar tudo que aconteceu até aquele momento.

Ele tem algumas questões pessoais que eu também tenho, mas sinto que as dele o sobrecarregam a um ponto quase insuportável. E percebo que ele não sabe muito bem como lidar, e afasta as pessoas, como que pra lamber as feridas sozinho.

Ele gosta sempre de ser o amigo com quem todos podem contar, mas não sei se os amigos dele sabem o que aflige a mente dele quando está sozinho no quarto.

Eu acho que ele me contou só 5%, e ainda assim, eu giraria o mundo pra ver ele sempre de sorriso solto e conversas incansáveis sempre.

Não sei o que fazer. Não sei se ele quer que faça alguma coisa. Não sei o que ele quer.

Mas todas aquelas promessas, pedidos e certezas não foram vazias, foram?!

Ele não pode ter feito tudo isso apenas pra me deixar escorrer pelos dedos, pode?!

Mas novamente, me questiono.. valho a pena?

Demonstrei o suficiente?

Deveria ter plantado em vaso com terra, ao invés de só uma flor com curta vida útil?

Fiz o meu melhor?

E sei que não.

Acho que ele tem razão em me afastar.

Mas ao mesmo tempo, acho que não.