O que é preciso para ser escritor?
Preocupar-se com a realidade. No geral, os aspirantes a escritores, sobretudo os jovens, alimentam a percepção equivocada de que, para ser um bom escritor, o sujeito tem que dominar integralmente a gramática normativa. Ledo engano! É evidente que o domínio dos meios de expressão implica, na atividade da escrita, no conhecimento do funcionamento da língua no âmbito da sua estrutura gramatical. Entretanto, esse conhecimento tem uma importância secundária. Para efeito de uma boa expressividade na escrita, o sujeito tem que ter lido muita literatura, tem que ter tido contato com muitos autores, muitos estilos e possibilidades de expressão diferentes. Escrever é registrar a experiência da realidade e a literatura, a grande literatura, eleva essa atividade para outro patamar: para a expressão da condição humana na realidade. Portanto, todo o conhecimento de gramática que um sujeito se arrogar de nada adiantará se ele não tiver experienciado, através de muita leitura, a complexidade da condição humana. A literatura é o registro das experiências humanas possíveis e imagináveis, isso significa, rapazinho, que você só vai conseguir falar bem -- escrever bem -- sobre essas tais experiências quando você as tiver vivido através da leitura. O domínio da gramática vem com o tempo. O importante é a leitura, porque, na exata medida em que você for lendo, guiando-se pelo interesse sincero, aquelas regras implícitas na escrita dos diversos autores vão se introjetando no campo da sua percepção. De modo que, quando você estudar a gramática normativa, as regras lhe parecerão claríssimas.