O grande mal das gostosonas, é que elas não conseguem ser simpaticas. Não conseguem se permitir...
Seus sorrisos são sempre interpretados pela grande maioria dos homens, como uma oportunidade.
Seus dentes perfeitos são como números de loteria pra eles... que pousam sobre elas como abutres sobre carne recém morrida. A atenção se volta aos seus perfumes, odores, olhares... a gostosona é hipnótica, traiçoeira às vezes... e isso não é sua culpa, de modo algum.
As gostosonas gostariam de ter menos marra. Gostariam de poder gargalhar e cuspir em mesa de bar. As gostosonas gostariam de batucar nas mesas dos restaurantes, e soltar peidos e arrotos e palavrões. Elas queriam falar de sexo e dizer coisas de duplo sentido e piadinhas picantes, sem olhares toscos, reprovadores, mesquinhos, hipócritas... tarados. Sem aquela sensação horrível de que todos aqueles pintos em sua volta estão duros e olhando pra ela.
As gostosonas se calam, e desfilam, e parece que são sempre muito chatinhas, fúteis, antipáticas. Mas isso não é verdade.
As gostosonas merecem usar roupas confortáveis, folgadas e sair de casa sem tomar banho ou pentear o cabelo. E merecem todos os calçolões que quiserem usar.
Toda gostosona tem que trabalhar, estudar, ler muito e discutir sobre tudo. Não podem acreditar que apenas a beleza substitui um bom argumento.
As gostosonas devem ser tratadas como todas as outras, menos gostosas, nem tanto gostosas, intermediárias, na linha do pênalti, Raimundas, feias, feiosas e extraterrestres.
A gostosa já tem seu lugar ao sol e em nossos corações (e um aparentemente cativo, nas redes sociais).
Mas o que a gostosona precisa mesmo é de respeito e um lugar de fala. Um lugar sob a lua, na mesa dos filósofos e sociólogos de botequim. Por fim, a gostosona precisa muito que o escritor saiba seu verdadeiro nome no próximo texto que ele escrever.