O êxtase da ignorância!
Quando eu tinha 17 anos, não militava em nenhuma causa política, queria apenas dançar e namorar. E se naquela época alguém viesse me falar de política, eu saberia que não teria condições nenhuma de compreender as complexidades dos argumentos políticos. No entanto, eu sabia muito bem a regra de 3 e como calcular uma média proporcional. Eu sabia que Bandeira era poeta, Machado um romancista e Vila-Lobos um compositor erudito nacional. Eu ouvia Elis Regina e John Lennon; Roberto Carlos e Lupicínio Rodrigues. Mas a vida se resumia nisso, nessa festividade colorida: "praia e sol, maracanã, futebol, que lindo!"
A meninada de 17 anos hoje milita numa causa política bem definida. É lenta e tímida. Não sabe fazer embaixadinha e nem joga mais linha de passe. Não arrebenta a ponta do dedão do pé porque usa chuteira para jogar pelada. Não faz a mínima ideia do que seja regra de 3 e nem muito menos sabe como calcular a média proporcional. Nunca leu Machado e nem mesmo passaram os olhos num simples "café com pão" de Bandeira. Prefiro nem falar dos gostos musicais.
Recentemente conversando com uma jovem de 17 anos ela derramava uma porção de clichês políticos populares que se doutrinam a meninada nos corredores de nossas universidades. Ela me dizia: "Não sei a relação e a sua insistência de querer usar essa tal de média proporcional toda vez que eu digo que morrem trocentas mulheres por dia vítimas da violência machista!"
Eu sei que diante dessa fala retumbante da jovem de 17 anos do século 21, uma malta igual a ela entraria num grande êxtase. E não adianta dizer que eles exaltam a ignorância e que são o resultado da pior barbárie intelectual.
Foda-se a regra de 3! Foda-se a concordância! Foda-se a coerência! Foda-se a matemática, essa deusa ultrapassada e opressora!
O erro de Castorp é a insistência em querer acender a luz.