Viva ao flagelo vivido!
Procurei minha voz nas profundezas da existência
Um clamor ficou distanciado
A vida suspirando, suplicando um momento
Um instante para se afirmar
Mas há tantos impedimentos
Discursos otimistas que querem calar o eco dos desesperados
Por que a dor deve ser evitada?
Se ela traduz o sangue derramado
Os flagelos infligidos
Quem tem o deleite reivindica o discurso do outro
Opina
Afirma
Ressalta uma ótica distorcida, iludida, fingida
Escuta-me, toda formação que censura é mortífera
Portanto, refletes
Angústia é dádiva
É índice
Sinal de preparação
Por isso canto
Onde está minha voz
Habita em toda solidão que me constitui?
Atravessa-me?
Grito, o mais alto que posso
Faço vivo o sangue que jorra das veias
Que mancha a vida e nela põe cor
Põe textura
Vida plena!
Esboçada nas cicatrizes
Marcas de uma sobrevivência que denuncia singularidade
Que deleite é poder olhar sem medo para o obscuro de si!
Nada há que se envergonhar
Se tudo caminha para individuação
Por que diabos há que fazer falta as palavras de progresso?
Às vezes é voltando que se encontra a essência