Viva ao flagelo vivido!

Procurei minha voz nas profundezas da existência

Um clamor ficou distanciado

A vida suspirando, suplicando um momento

Um instante para se afirmar

Mas há tantos impedimentos

Discursos otimistas que querem calar o eco dos desesperados

Por que a dor deve ser evitada?

Se ela traduz o sangue derramado

Os flagelos infligidos

Quem tem o deleite reivindica o discurso do outro

Opina

Afirma

Ressalta uma ótica distorcida, iludida, fingida

Escuta-me, toda formação que censura é mortífera

Portanto, refletes

Angústia é dádiva

É índice

Sinal de preparação

Por isso canto

Onde está minha voz

Habita em toda solidão que me constitui?

Atravessa-me?

Grito, o mais alto que posso

Faço vivo o sangue que jorra das veias

Que mancha a vida e nela põe cor

Põe textura

Vida plena!

Esboçada nas cicatrizes

Marcas de uma sobrevivência que denuncia singularidade

Que deleite é poder olhar sem medo para o obscuro de si!

Nada há que se envergonhar

Se tudo caminha para individuação

Por que diabos há que fazer falta as palavras de progresso?

Às vezes é voltando que se encontra a essência

Abraão Rodrigues
Enviado por Abraão Rodrigues em 04/12/2020
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