Por que seguir sempre?

Dizem que é no intervalo que se constrói

Por que, então, estamos desesperadamente condicionados a achar que se deve, em uma fantasiosa linha reta, caminhar indefinidamente?

Permitir-se refrear é fracasso?

Contradição pulsante

O mais precioso vinho descansa no tempo longo dos processos maturacionais

O mais sofrido desamor exige tempo para achar um substitutivo à altura

Cicatrizes são feitas no tempo

Todos os índices de força são delineados no desacelerar

Mas a lógica de uso das coisas e das pessoas-coisas não suporta um segundo de pausa

E os mortais inebriados com a própria ignorância

Tão enrolados no novelo das imbecilidades

Caminham ao cadafalso do consumo, rumo ao inautêntico imperativo de produção

Tão tolos, tão torpes, tão pobres: vítimas em si

Elevam o punhal da ignorância e sacrificam o mais íntimo da existência: o tempo

Por isso nada se cura

Nada realmente cresce ou matura

E se segue sem forma, sem contorno, sem vida

E sementes sem latência são tão frágeis

Não acham terreno fecundo, pois estão a desabrochar em terrenos secos, pedregosos, árduos

Seguir indefinidamente é morte anunciada?

Talvez não

Mas, com certeza, é engessamento

Mortifica-se o sujeito, Reforça-se o indivíduo e nunca eleva-se à pessoa

(Viva a possibilidade de dizer o que se sente, mesmo que aos ouvidos alheios soe como puro pessimismo, afinal, nem tudo são flores, e, quando são, há espinhos - VIVA A LIBERDADE DE EXPRESSÃO)

Abraão Rodrigues
Enviado por Abraão Rodrigues em 02/12/2020
Reeditado em 04/12/2020
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