Por que seguir sempre?
Dizem que é no intervalo que se constrói
Por que, então, estamos desesperadamente condicionados a achar que se deve, em uma fantasiosa linha reta, caminhar indefinidamente?
Permitir-se refrear é fracasso?
Contradição pulsante
O mais precioso vinho descansa no tempo longo dos processos maturacionais
O mais sofrido desamor exige tempo para achar um substitutivo à altura
Cicatrizes são feitas no tempo
Todos os índices de força são delineados no desacelerar
Mas a lógica de uso das coisas e das pessoas-coisas não suporta um segundo de pausa
E os mortais inebriados com a própria ignorância
Tão enrolados no novelo das imbecilidades
Caminham ao cadafalso do consumo, rumo ao inautêntico imperativo de produção
Tão tolos, tão torpes, tão pobres: vítimas em si
Elevam o punhal da ignorância e sacrificam o mais íntimo da existência: o tempo
Por isso nada se cura
Nada realmente cresce ou matura
E se segue sem forma, sem contorno, sem vida
E sementes sem latência são tão frágeis
Não acham terreno fecundo, pois estão a desabrochar em terrenos secos, pedregosos, árduos
Seguir indefinidamente é morte anunciada?
Talvez não
Mas, com certeza, é engessamento
Mortifica-se o sujeito, Reforça-se o indivíduo e nunca eleva-se à pessoa
(Viva a possibilidade de dizer o que se sente, mesmo que aos ouvidos alheios soe como puro pessimismo, afinal, nem tudo são flores, e, quando são, há espinhos - VIVA A LIBERDADE DE EXPRESSÃO)