POR QUE SOU CETICO
POR QUE SOU CETICO
“Instituições humanas podem ser mudadas, mas não o homem: qualquer que seja o esforço geral de uma comunidade para fazer seus membros iguais e semelhantes, o orgulho pessoal dos indivíduos sempre buscará elevar-se acima da linha e formar em algum lugar uma desigualdade para a sua própria vantagem.” Alexis de Tocqueville (1805 – 1859), filósofo político francês.
Muitas pessoas se espantam quando expresso meu repúdio a qualquer sistema estruturado de idéias e procedimentos que devem ser obedecidos por uma população, seja uma ideologia de esquerda, de direita, de cima, de baixo, de centro ou militar , religiosa ou de qualquer outra orientação. Como não defendo esses “ismos” criados por pessoas que acreditaram ter encontrado a fórmula mágica de como estruturar um país ou um conjunto de países, tentarei explicar minha postura. Falam de diversidade, mas não aceitam idéias diferentes das suas, falam de igualdades mas criam leis para mulheres, para idosos, para criança, para políticos. As sociedades atuais pregam o que não praticam. A população reflete o procedimento de seus governantes. Se não praticamos a igualdade é porque nunca fomos tratados como iguais. Violência contra idosos, gays, negro, mulheres e crianças é pior que contra outro tipo de pessoa? Dói menos, na alma e no corpo? A lei prevê punição para esses casos e o fato da vítima ser vulnerável é um agravante, simples assim. Cada vez que se adota uma posição ideológica, renuncia-se a uma característica fundamental da nossa condição como ser humano: a liberdade. Normalmente quem segue uma ideologia abdicou da maior expressão da liberdade: a de pensamento. É muito cômodo não pensar. Seguir a manada enquanto os indivíduos “alfa” se alternam no poder. Por quê? Para quê? Para cada vez mais serem seguidos por um rebanho obediente que perdeu o senso de analisar as ações dos líderes. O fundamental é segui-los e acatar suas orientações. Certo ou errado são conceitos não considerados pelos seguidores de uma linha. Vimos isso na Alemanha nazista, na União Soviética de Stalin, na Espanha de Franco, só para citar os casos mais notáveis. Falemos de liberdade, a meu ver o maior bem dos seres humanos.
A cerimônia de abertura do ano letivo de 1936 da Universidade de Salamanca foi invadida por franquistas. O reitor, o filósofo Miguel de Unamuno, interrompido pelo grito terrível do general Millán-Astray: Abaixo a inteligência, viva a morte”. Em “Liberdade, Liberdade!”, coletânea de músicas e textos sobre o tema de autoria de Millor Fernandes e Flávio Rangel, essa frase era dita aos berros por Oduvaldo Vianna Filho, em um palco sem nenhuma luz e ficou na minha mente a que ponto chega a cegueira mental e a obsessão pelo poder. Nós, brasileiros, nunca passamos por algo sequer que lembre esses regimes totalitários, que sua liberdade é tolhida e a desconfiança vira um hábito das relações entre parentes e amigos. Tivemos um golpe militar e hoje somente lembramos dos 430 ativistas que morreram por ser de esquerda. Mas foram mortos 120 militares, que ninguém sequer menciona e não foram contemplados com nenhum tipo de compensação. A vida dos militares não importam? Ou alguém considera que há pessoas melhores que as outras em alguma linha ideológica?
Eu que, repito, não sigo nenhuma desses “ismos”, procuro escolher o que considero melhor em cada situação, em cada eleição, em cada ocasião. Pois não há contextos iguais, ninguém está sempre certo. Considero que os valores humanos estão acima dessas baboseiras. Não somos tratados igualitariamente porque nossas leis não tratam as pessoas com os mesmos direitos e obrigações. Portanto, sou adepto de Pirro, filósofo grego que inventou o ceticismo, que significa exame e que não há verdade absoluta e tudo deve ser questionado. Chega.
Paulo Miorim 01/12/2020