Vais e Vens

No vai e vem da vida

Tenho sido tomado por tantas surpresas

E que júbilo , embora espantoso, é ser arrebatado por poderoso fenômeno

Tão subjetivo e tão certo!

Me vêm rostos, olhares, vozes e palavras

Verdadeiras e fascinantes alucinações poéticas

Todos me convocam à ressignificação eterna

Em um movimento (a) temporal

Onde conjugo pretérito e futuro, desenhando um presente: que presente!

Mas qual é o material de reelaboração?

O mundo? A vida?

Não, é mais que isso: o EU-MUNDO

Volto ao estágio indiferenciado

Totalidade experimentada na limitação mesma da incompletude humana

Que paradoxo tão verdadeiro! tão puro! tão fluído!

É presença! O convite assombroso é este: Faz-se, Presentifica-se, Ocupa-se também

E que espetáculo é estar

Assim como maturador e fecundo é sair, ausentar-se

É por isso que estou indo e vindo, me aproprio do contraste

E é o contato com essa verdade, com esse chamado da existência que promove o assombro

Assombro é, portanto, convite

E ao me entregar a possessão dessa força tão criadora, tão mítica

Vou (re) visitando contingências, desfazendo-as, reajustando-as

Brinco com elas como blocos potenciais

E junto com eles me reinvento

Vejo-me transmutado, desnorteado, alucinado, perseguido, encontrado

Eu mesmo torno-me objeto que cai

Sou resto inebriado

Pelo que?

Pela coisa?

Jamais!

É o processo que me fascina e me vira ao avesso

Ele me embriaga e me torna lúcido

Lucidez de outra ordem, de outras razões

E qual a finalidade?

Ora, para me voltar aos vais e vens ordenados

Imperativos que a vida nunca deixará de exercer

Abraão Rodrigues
Enviado por Abraão Rodrigues em 01/12/2020
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