Não Pinto os Meus Cabelos

Por Nemilson Vieira (*)

— Porquê não pinta os seus cabelos, caro amigo?

— Para quê pinta-los, se outra cor não mais convem? O tempo não foi sábio o suficiente?

Pintou os meus cabelos porque há um sentido lógico, um significado, uma importância qualquer nisso.

O prazer do artista é ver o seu trabalho numa exposição, transitória ou perene; para ser visto, apreciado, valorizado...

Deverei eu agora ignora-lo numa tamanha afronta do seu fazer em sabedoria?

Apesar de impor-me tal feito, sem uma consulta prévia, numa coloração, reprovada por muitos, não o questiono; o tempo não é o senhor da razão?

Com a minha idade é natural que aconteça a predominância dessa cor (a branca); não sou mais tão novo assim. O tempo passou para mim também.

Não sou melhor que ninguém, que os demais colegas da minha idade, que chegaram onde cheguei, nos Janeiros que vivi.

Óbvio, se foi-me dado o direito de expor tamanha obra artística por aí, esta pintura original que ganhei na cabeça, me satisfaz; não devo custear outro artista com menos expertise, para tentar esconder com tintas o que a natureza embranqueceu tão bem.

Ainda hei de agradecer a exelenência do tempo, pela baixa absorção dos raios ultravioletas que proporcionou-me; numa exposição ao sol. -- Ao remover o preto do meu teto craniano.

Dessa maneira com baixa incidência solar na massa cinzenta, na moleira que fechou-se, terei a branca lã, envolta na cabeça, que faltou-me num passado não tão distante.

Daí seguirei na paz eterna que o branco simboliza.

*Nemilson Vieira

Acadêmico Literário.

(22:11:20)