A terceira margem da vida

A vida é um rio de longas beiras. Ao percorrê-lo não se chega a lugar algum. Primeiro, nascemos. Pra quê? Não se sabe, mas nascemos, crescemos existimos... e é esse rio que nos leva, que nos guia pra um rumo qualquer. Nos rumos em que chegamos, estacionamos em alguma parte na margem, esquecendo que o rio corre e não para, ele segue.

Quando os ventos esbravejam sobre suas águas, corre mais ainda seguindo seu rumo, não para! Se nos mantivermos parados suas ondas nos alertam – “Vamos, desperta, outras águas passarão por aqui, não pare nessa margem e na outra também não!

Esse rio tem três delas, a terceira é preciso desvendá-la, vencendo obstáculos, medos, dúvidas, ansiedades, incertezas e outros temores que hão de vir. Mas tudo isso se faz necessário para descobrirmos o que somos e o que seremos.

O rio da vida corre e passa por onde não queremos. Assim vivemos sendo guiados por esse rio, mas tentamos fazer, muitas vezes, o que o rio não quer. Só que ele não para, não importa o que faça, ele não para! E assim vivemos...e vivemos pra quê? Não se sabe! ...

Talvez o curso desse rio – que nos leva pra lugar algum - seja para encontrar a terceira margem. Margem que nos mostra o inarrável entre a vida e a morte, entre o ser e o não ser, entre o corpo e a alma. Ao fim dele morremos. E morremos pra quê? Não se sabe!...

Poder-se-ia dizer que já tenha descoberto a terceira margem?...parece que ela transita no inefável, no transcendental. E ninguém pode descobrir a terceira margem da vida por outrem, pois o rio que cada um percorre é um rio distinto... outro não pode tomar o seu lugar.

(Texto baseado no conto "A terceira margem do rio" de João Guimarães Rosa)

Márcia Lemos
Enviado por Márcia Lemos em 24/11/2020
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