A JANELA DO PASSADO

* A sala estava vazia, nem sei como ali entrei, sentia um vazio dentro de mim, assim como estava aquele ambiente, nenhum móvel, nenhum quadro na parede, nada que me fizesse entender o que estava acontecendo.

* Tudo foi muito rápido, eu sabia que não era um sonho, a porta estava ali, eu podia muito bem sair e tomar outro rumo, porém me vi preso nesse lugar tão estranho, tão silencioso.

* Se era noite ou dia não sei dizer, também não importava, talvez de nada adiantasse, o fato é que ali eu estava e não sabia o motivo.

* Apenas uma janela eu vi, uma única janela que se encontrava bem no alto, eu não conseguiria olhar por ela, estava aberta e eu sentia a brisa que vinha através dela.

* Uma espécie de angústia me absorveu, um sentimento de tristeza invadiu minh'alma, uma crise de choro me fez soluçar e quando dei fé estava diante da janela olhando para fora.

* Tudo então mudou, um alívio invadiu agora o meu peito e meu semblante era de alegria, acho que não estava em mim, me sentia como se flutuasse.

* Da janela eu vi o meu passado que me comoveu imensamente, tudo era magia e perfeição, estava eu em um campo com flores e amigos, amigos que me abraçavam.

* A minha mãe sorria para mim junto de meu pai, meus irmãos corriam e brincavam perto de mim, era uma algazarra sem limites.

* A escola, os coleguinhas, a minha pasta com livros e cadernos na minha mão e a professora a me chamar exigindo que me sentasse na carteira, a aula ia começar.

* Que vontade louca de gritar, que momento de felicidade eu vivia, era um passado maravilhoso que se tornava presente, tudo quase real.

* Aos poucos fui viajando no tempo e passando por lugares que vagamente conhecia, se era dia, se era noite ainda não sabia dizer, apenas importava o momento que vivia e não queria perder um segundo.

* A festa então começava, as moças bem vestidas, a música tocando, os rapazes também trajavam bem assim como eu, uma elegância impecável, me vi dançando com uma garota que não conhecia.

* De repente uma multidão, muita gente bem vestida, uma igreja, um padre, uma noiva, tudo envolvia a minha pessoa, eu não era mais um menino qualquer, estava casando.

* Minha casa, uma sala cheia de móveis, uma mulher que me abraçava quando eu chegava do trabalho, as crianças correndo em minha direção, eu não cabia em mim de tanta felicidade.

* Um vento forte soprou e percebi meus cabelos esvoaçarem, eles agora estavam brancos e ralos, era noite e as estrelas cintilavam no céu.

* Estava eu na janela observando tudo lá fora como um expectador apenas, depois me vi na sala, sozinho e saudoso, lágrimas caíam dos meus olhos, momento em que acordava aos prantos.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 22/11/2020
Reeditado em 22/11/2020
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