Conto de fadas
Não existem contos de fadas.
Esquece isso. Você sabe, tão bem quanto eu, que os relacionamentos reais são complicados e tão imperfeitos quantos as pessoas que o iniciam.
Sabe o que queria fazer agora: te ligar e dizer tudo o que venho guardando dentro de mim nas últimas semanas. Eu ainda não consigo acreditar no que você me fez. Na forma como partiu o meu coração, sem se importar como eu faria para juntar os pedaços. Você não teve a coragem nem de me encarar. Que covardia da sua parte!
Eu errei. Assumo a minha culpa. Mas não isenta a sua. Que se eu fosse comparar, numa escala de quem fez maior merda, a sua ganha de disparada.
Eu poderia ligar e dizer muita coisa. No entanto, eu duvido que o bolo que se formou na minha garganta me deixaria falar alguma coisa. Ainda assim, você não entenderia. Você deixou de me entender há muito tempo.
Sabe o que eu preciso fazer de verdade, para tentar recuperar um pouco da minha paz: me afastar de você, de tudo que me envolve e você, de tudo que traz sua lembrança. Só que quando eu tento me afastar, você dá um jeito de aparecer na minha vida – parece que sente que eu vou sair da sua.
Vamos aceitar que não podemos mais estar na vida um do outro.
Temos que aceitar que é melhor assim. E lidar. Essas coisas acontecem... É mais comum do que imaginávamos. Não acontece de forma igual, mas há muitas histórias parecidas com a nossa por aí, porque ninguém é igual.
Cada sentimento é único e especial.
E eu senti.
Senti intensamente. Não ouse duvidar.
Eu senti e guardei para mim por um tempo, até estar pronta para te revelar. Só que era tarde demais.
Somente eu sei o que sinto. Assim como você, que me ler, sabe o que sente, apenas você. Digo, só você sabe o que se passa aí. Muitos podem julgar por não compreender, mas só quem sente, sente.
(Mas eu não sei se acredito no que você sentiu por mim. Como algo tão forte, como você me disse sentir, pode ter acabado assim?)
Não deveria ser assim, sabe. Deveríamos dar certo com a pessoa que desejamos tanto. Reciprocidade deveria ser a regra, não a maldita exceção. Deveríamos dar certo com a pessoa que gostamos, não com aquela que possui apenas uma parte da nossa felicidade. E, sim, o relacionamento certo é real, leve, divertido e singular. O relacionamento em que os dois se amam.
(Você encontrou nela o que só poderia ter comigo?)
Mas sempre estamos estragando tudo.
É sempre assim: quando temos algo bonito, não sabemos como cuidar.
Sempre com a ideia de que nada pode durar. Aceitando que histórias bonitas, com final feliz e bem resolvido é algo de comédias românticas açucaradas. Nunca damos razão ao que realmente sentimos. Afinal, fomos ensinados que somente podemos confiar na razão. O coração é enganoso. Eu fui desse time por um bom tempo. Não gostava de nada que não pudesse controlar, racionalizar. Que besteira! O amor não tem lógica.
Às vezes temos tudo na nossa frente. A chance está ali, esperando que duas pessoas abracem-a. Só falta brilhar com uma seta apontando que é o certo. Contudo, sempre achamos que é uma miragem. Que isso não acontece na vida real.
Temos medo da felicidade. Angústia em ser feliz. Pavor de amar e ser correspondido. Não sabemos lidar com a reciprocidade. Porque ela é realmente muito rara. Quando acontece de amor ser o elo que une duas pessoas, não sabemos como prosseguir. Não tem uma receita a ser seguida após o beijo encaixar e as mãos se unirem.
Por que eu não acredito em conto de fadas? Ora, porque a história sempre acabar após o beijo e final feliz. Não mostra o que é relacionamento de verdade. Ninguém vê a merda que vem depois.