Nossas Angústias

Tem dias que acordamos totalmente indispostos, sem a menor vontade de deixar os lençóis para encararmos a rotina outra vez. Às vezes nos sentimos tão sozinhos, solitários, como se não tivéssemos nem mesmo a nossa própria companhia, como se não conseguíssemos mais reconhecer o nosso corpo, a nossa pele, o “eu” que habita em nós. Em certos momentos da vida tudo parece tão nublado, tão terrivelmente carregado, como se a qualquer instante o céu fosse desabar sobre nossas cabeças, as águas se avolumariam num piscar de olhos e nossos frágeis corpos seriam carregados pela enxurrada de dores e angústias pelas quais precisamos passar. Há fases da nossa vida que as lágrimas são uma constante, a desesperança nossa única certeza, as coisas perdem o brilho, o sentido, a razão de ser e dão lugar a questionamentos cujas respostas nunca nos são trazidas. O sofrimento, em dados períodos da nossa existência, se faz presente de uma forma quase insuportável.

Parece que não somos aceitos, que não somos compreendidos, que não temos o poder de expressar em palavras tudo aquilo que está sufocando nossa garganta, que nos faz nos afastar, recolhermo-nos ao nosso canto, preferirmos pelo silêncio da falta de companhia. Mas parece que ninguém nos entende. Parece que ninguém consegue enxergar para além dos nossos olhos sem brilho, dos nossos comportamentos reclusos, parece que ninguém consegue ouvir a alma que grita dentro de nós suplicando por um pouco de alívio para as tantas angústias. Angústias causadas por incertezas, por inseguranças, pelo medo de amanhã, um amanhã que anuncia ser diferente daquele que sempre idealizamos, do futuro cujos ares anunciam os desafios pelos quais teremos que passar. Tudo porque a vida é assim. Esse emaranhado de surpresas, de inesperados, de rumos distintos que são tomados. Um dia visualizamos o futuro, traçamos qual seria a nossa vida, mas não sabíamos que iríamos nos transformar, que seríamos forçados a um encontro conosco mesmos e que essa descoberta faria aquele futuro tão concreto se dissolver, ser levado pelo mais leve dos ventos e dar lugar a um desconhecido amanhã repleto de novidades para as quais não pudemos nos preparar. Muitas das nossas angústias são causadas pelos caminhos surpreendentes que somos forçados a tomar.

A vida é assim. Teremos momentos de dor, quase insuportáveis, mas que passarão. Sim, eles passarão. Mas para que passem precisam ser sentidos, precisam ser vividos, precisam ser notados. De um jeito ou de outro eles passarão, com ou sem a nossa percepção sobre eles, mas passam mais devagar quando tentamos forçar que passem depressa. Buda acreditava que a causa do sofrimento estava no desejo. Quando estamos tristes desejamos amargamente por uma alegria que não nos é possível, pelo menos não naquele momento. Contudo, mesmo alegres, ainda desejamos por outras razões para sermos ainda mais alegres, de maneira que nunca aproveitamos o aqui, nunca desfrutamos do agora e vivemos sofrendo com um porvir que pode ou não acontecer. Por mais desagradável que possa ser, precisamos aproveitar nossos atuais sentimentos, precisamos aceitar o presente de experiências pelas quais estamos passando. Que possamos sentir a tristeza, pegá-la em nosso colo, procurar nela um significado para a nossa vida. Que possamos saborear a alegria, senti-la em nossos braços e encontrar nela motivos para sermos gratos por tudo o que passamos na nossa história. É assim que a vida precisa ser vivida para que nossas angústias sejam suportáveis. Aceite cada momento. Aceite o seu momento. Tudo bem chorar, tudo bem querer o silêncio, tudo bem se esconder no seu cantinho de segurança. A vida é mesmo assim. De altos e baixos. Entregue-se ao aqui, renda-se ao agora, aprenda com o momento presente. Saiba que haverá um amanhã, mas para que ele chegue, o hoje precisa ser experimentado.

(Texto de @Amilton.Jnior)