Meu peito é como um balão
Eu sinto como se ninguém quisesse falar comigo. Mas a real é que eu também não quero falar comigo. Afinal, quem iria querer? Eu me sinto uma bagunça por dentro, por fora, do avesso, ontem, hoje, amanhã e depois de amanhã. Nunca me senti tão sozinho antes. Dizem que a maturidade é um caminho solitário, porém não pensei que seria tanto. Não posso culpar somente os outros. Afinal, eu também tenho culpa por ter me afastado de todo mundo. Contudo, eu não me sinto mais eu, sabe? Eu me sinto à deriva, em um mar de incertezas e caos. Eu não tenho vontade de nada e não sinto vontade de ter vontade de algo, entende? É confuso, eu sei. Eu me sinto perdido nas coisas que sou, eu me perdi de tudo que achava importante, eu não sei o que sentir pois tudo está muito confuso. Estou cansado de tudo e nem sei que tudo é esse. Eu não suporto mais passar nem um dia com o meu peito apertado. Estou a ponto de estourar, como aqueles balões que a gente enche para festas de aniversários – o que me lembra que o meu está próximo. Por mais que esteja cheio, continuo enchendo, esperando que eu finalmente estoure. Mas aí que está: não sei se quero estourar. Isso faria uma bagunça danada e um estrondoso barulho que possivelmente assustaria alguém. E se o meu peito for aquela espécie de balão que sempre aguenta mais ar? Mais problemas, mais angústias, mais inseguranças, mais palavras, mais vida? Eu me perdi em todas as possibilidades de ser. Quis ser tudo ao mesmo tempo e no final não sou metade do que sou agora. Um rádio toca uma música para acalentar a minha solidão e me pergunto quando tudo isso vai passar. Meu peito continua enchendo. Meus dias têm conserto e eu preciso me arrumar para resolver os meus problemas.