GRAVIDADE
Em busca de nos curarmos do pavor e reconhecermos o paradoxo da existência, numa cultura que não admite sua realidade, o mistério, escuridão, a sombra e o submundo da vida devem ser trazidos para a luz de nossos corações para integrar sua possibilidade na experiência.
No território escuro do sofrimento humano compartilhado, crescemos nos desafios e sofrimento alheio e nos tornamos em humanos genuinamente maduros.
Às vezes, nossa solidão se acomoda no tecido de nossos ossos doloridos e apenas o gosto de nossa própria amargura em nossos lábios nos mantém presentes.
Quando somos convocados pelo próprio pulso da vida para o leito, como um ser criticamente enfermo, algumas vezes estamos essencialmente sendo chamados para a morte do Eu que sabemos ser. No decorrer da enfermidade nosso corpo aos poucos enfraquece. Se atingíssemos o extremo dentro da transformação no meio da progressão da doença, não encontraríamos o nosso Eu presente no momento, pois, nosso pensamento estaria inconstante entre a criança, a experiência e a pessoa, os acertos, erros e culpas, esperanças sem base e a depressão temível. É uma transformação complicada numa transição de ser.
Para cada um de nós, o teste supremo assume diferentes formas, seja através de uma doença incurável, a perda de um familiar, sobreviver a uma catástrofe natural, ou, o último estágio de um vício incorrigível.
Porém, não há como evitar ou contornar nossa morte! A única saída é através da experiência e, para nossa consternação, é um processo mentalmente indescritível para aqueles que sofrem a provação suprema, que os deixa completamente desorientados, sem ilusões para se agarrar, nem crenças para se sustentar. Às vezes, a inconformidade e a ira se sobrepõem despedaçando nossa totalidade, desativando o senso de quem somos, por que estamos aqui, nossa compreensão do que é a vida, e nossa concepção de Deus, espírito ou origem.
Nas horas mais sombrias, os pensamentos não são nossos, pois a sombra pensa através de nós. Buscamos adiamentos em pensamentos delirantes nos quais o momento doloroso angustiante e nosso Eu não estão presentes, e o padecimento passa a ser sofrível na imaginação nos levando além de nós. Ao despertar dos devaneios sombrios, ninguém estava vindo para nos salvar.
A morte pode ser um assunto polarizador e paralisante. Possivelmente a crença seja uma forma inconstante de espiritualidade que não ajuda uma pessoa a alcançar o íntimo de quem ela é, ou não é. Contudo, em momentos como esse é confortante encontrar consolo na fé da existência de algo maior do que nós. "Deus é nosso refúgio e fortaleza. Um socorro sempre presente nas dificuldades." Salmo 46: 1