O escorrer infinito das horas

Vinte dias.

Como seguir em frente depois da morte tão prematura de um pedaço seu?

Como viver sem a doçura do seu olhar curioso?

Como suportar a ausência do seu cheiro, do seu toque?

Como continuar sabendo que uma parte de mim jaz sob o cimento?

Vontade de gritar, correr. Falta de ar. O desespero, a angústia, o vazio.

A certeza da eternidade não é o suficiente para aplacar a minha dor. Esperar o reencontro não me acalma. Eu sei que Deus está aqui, mas não consigo mais tocar o sobrenatural como antes.

Todos já fizeram tudo o que podiam. Agora é a vez da ação do tempo. Mas quem disse que o tempo cura alguma coisa?

O tempo...Ah, o tempo! Essa máquina cruel que faz passar os momentos de felicidade. Ele nos rouba a alegria em um segundo e escorre em gotas minúsculas enquanto ameniza nosso sofrimento.

O tempo mostra uma conta que jamais será justa: o tanto que eu vou viver, mas ela não.

Como...?

Sigo perguntando entre o escorrer infinito das horas.

(25/04/2020)

Lilian Blasioli
Enviado por Lilian Blasioli em 03/11/2020
Código do texto: T7103144
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