O retorno do vazio
O vazio voltou arrebentando tudo o que há em mim. Não me preocupo mais com palavras bonitas. Eu não quero ser poeta. Quero gritar toda a dor que há em mim através de palavras sujas e desconexas.
Não vou ouvir sua voz me chamando de mãe.
Minha alma não aguenta a verdade; ela se contorce em gemidos angustiados.
Deus, eu não consigo!
Como viver depois de enterrar um filho? É como tentar chegar ao céu cavando para baixo!
Eu quero gritar, mas minha voz secou. O grito de agonia ficou preso na garganta.
Eu vou enlouquecer.
Sinto falta do cheiro dela, da face da plenitude.
Queria ser novamente a mulher plena e feliz que fui quando tinha meu colo preenchido por meus filhos.
Minha cabeça gira e eu tenho vontade de vomitar.
Eu quero minha bebê menina, minha Catarina, minha flor de tangerina.
Eu não vou suportar tanta dor. Tenho vontade de abrir meu peito e arrancá-la com minhas mãos.
Eu não tinha estrutura para isso...quem teria?! Deus não aguentou ver Jesus morrer...como eu suportaria?!
Enterrei com ela uma parte de mim e essa parte ficará sempre faltando.
Eu não sei o que fazer.
Eu não consigo.
Não consigo.
(04/06/2020)