É triste não viver nada

O filme Poder Além da Vida nos traz uma mensagem altamente profunda e enriquecedora. “A morte não é triste. O triste é que a maioria das pessoas não vive nada”. E essa é uma grande verdade. É claro que ninguém quer passar pela experiência da finitude, seja diretamente, tendo que dar o último suspiro, ou indiretamente, vendo quem amamos partir aos poucos ou mesmo de repente. É claro que nesse sentido a morte é angustiante e nos traz uma pesada carga emocional. Mas ela acontece. Esse é um fato que ninguém consegue mudar. Mas pode ser melhor suportada se tivermos em mente que vivemos intensamente o quanto pudemos, que não desperdiçamos o tempo que nos foi dado, que não jogamos fora o privilégio de fazer uma travessia por esse mundo evoluindo, sorrindo e causando sorrisos. Mais triste do que o fim é o fim que nem ao menos teve um começo.

E a falta desse começo pode ser por tantas razões. Medo, insegurança, falta de ousadia, falta de habilidade para entender que a vida é múltipla, que ela aceita variadas facetas, que ela possui diversas formas de acontecer. Se por um caminho está entediante, monótono, por que não mudar a rota? Se uma janela só nos traz a mesma paisagem, por que não dar alguns passos para o lado e passar a enxergar a vida por outro ângulo? Se alguma experiência não foi tão agradável, saímos machucados de alguma forma, por que não entender que há tantas outras experiências prontas para serem vividas e potencialmente capazes de nos fazer as pessoas mais felizes do mundo? A gente precisa se permitir à vida. Mesmo com todos os riscos que isso implica. Em alguns momentos vamos chorar, em outros vamos nos cortar, alguma dor teremos que sentir, mas em tantos outros daremos gargalhadas, sentiremos o toque gentil de alguém disposto a nos curar e desfrutaremos de prazeres nunca antes pensados. Tudo porque nos permitimos à vida.

Percebo como altamente triste alguém chegar ao final de seus dias arrependido pelas coisas que deixou de viver, tendo a certeza de que não há mais nada a fazer se não se lamentar pelos desejos que deixou de atender, pelas vontades que deixou de viver, pelas oportunidades que deixou escapar. É diferente de quando estamos ao lado de alguém que tem consciência do seu estado debilitado, que sabe que a qualquer momento será convidado a se retirar de cena, mas que só tem sorrisos a dar a cada história que nos conta, conselhos a dispensar a cada lembrança que vem a sua mente. Qual dessas pessoas queremos ser? Aquelas que deixaram a vida passar sem aproveitá-la? Aquelas que viram os dias se findarem sem buscar por alguma emoção? Ou seremos aquela que têm tristes histórias a contar, é verdade, mas que conseguiu aprender com elas? Que mesmo com todos os desafios teve a boa chance de desfrutar de momentos inesquecíveis?

Não tenha medo da morte. Tenha medo de uma vida desperdiçada. Não tenha medo do fim. Tenha medo da estagnação que impede o começo. Não tenha medo de ter que dar “tchau” com os olhos cheios de lágrimas. Tenha medo de não ter ninguém para retribuir o aceno. Tenha medo de não viver mesmo que esteja respirando...

(Texto de @Amilton.Jnior)