Exercício de imaginação

"Veritas filia temporis". Faça um exercício de imaginação e tente visualizar o mundo daqui a 300 anos, no século XXIV. Não é muito, se você considerar a escala cronológica de mensuração da História. Pois bem, imagine que há um grupo de estudiosos preocupados em narrar os fatos passados no longínquo século XXI. E estes estudiosos estão concentrados em reconstruir a narrativa histórica a partir da somatória dos discursos da mídia, do meio jornalístico da época. Em primeiro lugar, chamará a atenção dos pesquisadores a estranhíssima padronização dos discursos, eles constatarão, atônitos, que todos os veículos de mídia no século XXI falavam as mesmas coisas, davam, prazerosa e soberbamente, as mesmas opiniões sobre o que quer que fosse e, para esse fim, lançavam mão da mesma linguagem superficial de impacto psicológico nos leitores. Os pesquisadores do século XXIV, se se deixarem guiar somente pelo que encontrarem na mídia de três séculos atrás, terão material mais do que suficiente para afirmar que o mundo daquela época só se importava com o politicamente correto, com a polidez estupidificante, com a demagogia, com a paternidade dos pets, com a representatividade das raças nos reality shows, com o tira-e-põe das máscaras nos restaurantes, com o arejar das flatulências nas calças do governador, com a presença de bandidos nas campanhas eleitorais, com a utilização estúpida de pronomes neutros, com a construção de mesquitas e a destruição de igrejas, com o superficialismo de todas as coisas. E a realidade? Bem, essa coisa aí permanece, inalterada, impávida e é ela que faz os ilustres historiadores do futuro rirem às gargalhadas. Grande gozo é rir de idiotas, gozo máximo é rir de uma época idiota!

Vitor Marcolin
Enviado por Vitor Marcolin em 01/11/2020
Código do texto: T7101432
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