O Santo e o Louco
A loucura do outro, mesmo que compartilhada, ainda é do outro. Havendo verosimilhança, passa a ser sua.
Na busca de libertação, qualquer certeza serve de gaiola. O medo travestido de conhecimento é a verdadeira fábrica de loucos. O louco precisa de antecedentes para justificar as suas convicções e a espiritualidade, sem que o queira, faz serventia aos seus propósitos, ao confirmar as suas alucinações.
A espiritualidade não é a causa da loucura, embora nela hajam muitos loucos.
Submeter uma mente santa e uma mente perturbada à simbologia da linguagem espiritual, produzirá leituras divergentes. O ser humano santo e o louco podem se servir da espiritualidade para expressarem seus valores, mesmo que não dependam desta para serem loucos ou santos.
Um homem ou mulher santos, aos olhos da pessoa comum podem parecer loucos, porque olham sem medo o que o comum nem em sonho teria coragem de enxergar.
Basta dar uma olhada em homens e mulheres que atingiram essa categoria e assim o são reconhecidos pela maioria. O reconhecimento não se dá pelo o que eles dizem, ainda que suas palavras sejam sempre conselhos sábios, mas pelo o que eles fazem. Avaliem a quantidade de desculpas que você é capaz de criar para não ter que pensar no que eles tem coragem de fazer.
Somente um "louco" é capaz de mudar o mundo, porque é capaz de enfrentar as mudanças essenciais em si mesmo primeiro. O "louco" não teme ser chamado de louco, porque tem consciência de que está desconstruindo o que as pessoas que o classificam dessa forma, criaram. Isso não o abala porque já é o esperado. O mundo das pessoas comuns não é o mesmo mundo dos "loucos", embora desfrutem de um mundo em comum para que possam através da convivência, ambos se transformarem.
Não julgue a "loucura" do outro, observe e avalie se ela pode ser a sua também. Tenha coragem de enfrentar a si mesmo, eliminando o egoismo. Somente o egoísta pode destruir o mundo. A doença do egoismo é a que o santo chamado de "louco" está trabalhando para curar!