O vazio

Acordei com vontade do dormir para não lembrar. Não de você, com seus cabelinhos pretos. Não me lembrar da dor da sua ausência. Não de você, dormindo no bercinho com a cabecinha jogada para trás. Não me lembrar de que eu nunca mais poderei ficar ao seu lado, observando-a dormir.

O vazio que consome minha alma é pior do que a dor. Há dias em que não é possível abrir os olhos. A ausência é como um buraco negro na alma: suga tudo o que se aproxima. A anestesia, o vazio.

Olho para as paredes, à procura de respostas. Elas não vêm, não virão. O vazio.

Procuro conforto nos braços que, em vão, tentam me acalmar. Ele não vem, não virá. O vazio.

Procuro rastros do seu cheiro na única roupa que guardei. Já não está lá. O vazio.

O vazio tenta engolir todas as lembranças boas. Como um funil que suga tudo o que há de bom em mim.

Esvazio-me de palavras, de ações, de sentimentos.

Continuo parada, olhando para a parede. Ainda não há respostas lá.

O vazio embrulha meu estômago e faz minha cabeça girar.

O vazio suga meu ar e faz meu coração parar.

O vazio aquece meus músculos e faz meu sangue gelar.

O vazio é a ausência de toda a vida que você trouxe, mas agora já não há.

(23/04/2020)

Lilian Blasioli
Enviado por Lilian Blasioli em 31/10/2020
Reeditado em 03/11/2020
Código do texto: T7100580
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