TRÊS PULINHOS

TRÊS PULINHOS

Pule uma vez, pule a segunda vez, pule a terceira vez, mas não pule a quarta vez. O filósofo faz a pergunta, o gnóstico a ignora, o místico simula, o teólogo responde. A pergunta se torna necessária, uma vez que na existência a sua racionalidade busca uma resposta, embora sempre deixando a porta aberta, uma vez que a própria racionalidade por si só não alcança o objeto ou objetivo da resposta – mera contemplação; o gnóstico se arvora acomodado na filosofia, fazendo dela a sua estada na zona de conforto sem a preocupação de uma busca convincente pois que sua acomodação se torna o suficiente até prova em contrário – um parasita; o místico se insurge como propiciatório da verdade, simula como expressão da original suas próprias convicções – há de ser, ei de vencer - diferente da crise que oportunizada na fé busca a resposta almejada, uma vez que transcendendo confia o resultado não no que não vê, mas no que espera. O Teólogo trabalha com o racional, porém, submisso à crença de que há uma relação real e possível entre o Criador e sua criatura. Paradoxalmente torna-se mais racional, uma vez que jamais a criatura vai explicar o Criador, jamais o finito vai explicar o infinito, todavia, concorda com o pensamento de que: minha fé tem razão. Sendo assim, mesmo que a minha fé seja insignificante, ela se torna maior que qualquer pergunta ao vento; se torna maior que o acomodado gnóstico que se apoia no acaso sem se submeter ao ente-supremo, embora contendo a “fagulha” que o identifica como procedente de uma fonte suprema que é Deus.

Nessa diversidade, a filosofia coopera com a Teologia, uma vez que o filósofo contempla a criação, o ambiente, o comportamento, e a partir de sua visão cosmológica, faz produzir as ideias, que fazem brotar as perguntas. O filósofo não se confunde com o transcendente, está mais propenso a aplicar conhecimento à luz da razão simples e pura, necessariamente, o filósofo não está comprometido com a explicação teológica, mesmo que dela socorra eventualmente. Todo conhecimento do filósofo “provém da experiência, limitando-se ao que pode ser captado do mundo externo – pelos sentidos, ou do mundo subjetivo, pela introspecção, sendo geralmente descartadas as verdades reveladas e transcendentes do misticismo, ou apriorísticas e inatas do racionalismo” – conhecimento empírico, de onde se destaca John Locke, dito, pai do liberalismo, fundador do empirismo, além de defensor da liberdade e tolerância religiosa. Tenho destacado nos meus escritos René Descartes, dele aprendendo sobre o “Discurso do Método”, onde ensina a colocar o pensamento em ordem, tendo dado boa contribuição ao pensamento teológico quando alcança entendimento para afirmar: “sendo eu criatura, logo, existe um Criador”. O que numa explicação racional, faz “prova” da existência de Deus, muito embora, não assistindo qualquer provocação quanto a existência de Deus, pois que maior seria a irracionalidade, admitir que a criatura explique o Criador, data vênia.

No simplicíssimo racional se diria do filósofo por ter receitado o cardápio seguinte: Se o capim faz bem para o burro, sendo ele dotado da mesma capacidade orgânica que lhe dá a força para o trabalho, logo, o capim faz bem para mim. Na visão do gnóstico, bastaria se convencer de que o burro é burro e, o homem é homem – não está muito interessado em prosseguir, seu convencimento é o bastante. Para o místico, talvez a facilidade na concordância quanto ao questionamento colocado à lebre – bastaria ao homem comer o capim, dar três pulinhos e tudo estará resolvido. É claro que estamos satirizando, apenas com o propósito de chamar a atenção para que nenhum de nós se renda à mera contemplação – precisamos nos valer de nossa racionalidade em busca de respostas para as coisas que nos intrigam ou desafiam. Ao mesmo tempo em que somos realistas quanto às coisas que nos cercam, delas precisamos ter conhecimento, pelo menos o suficiente ao nosso alcance – podemos até mesmo dar a recita do remédio por nossas convicções, porém, será sempre mais acertado se for aviado por um médico. Diz-se de alguém que está numa crise existencial: “faça meditação transcendental”, e essa pessoa começa a buscar tudo que vem do oriente, ela se convenceu de que precisa ficar “zem”. Pode até fazer isso, só que, nas crises existenciais nós humanos precisamos de Deus. Para isso, a Teologia pode ajudar no entendimento dessas carências espirituais cujas respostas é muito mais que meditação, oração, contemplação. Deus deixou seu manual de instrução para a existência humana, tudo está prescrito no livro Sagrado – a Bíblia. Penso que, cada um de nós, dotados de inteligência, tem o dever de usar desse atributo para alcançar as respostas para nossos questionamentos, é claro que, embasados de algum conhecimento que seja suficiente para se render ao que é Onipresente, Onipotente, Onisciente, ele é Deus. Jamais confie nos três pulinhos! Por menor que seja a nossa fé, basta ser pelo menos do tamanho de um grão de mostarda, ela será capaz de transportar os montes – foi Jesus quem autenticou. Nunca em três pulinhos.

31\10\2020