Visita

Olá, que bom te receber aqui! Pode entrar e repare bem na bagunça. Ela representa bem como me sinto. Repare no jeito que meus livros estão sempre arrumados por tamanho (maiores embaixo e menores em cima), mas minhas roupas parecem bagunçadas. Mas não, você só pensa isso porque eu organizo-as em três grupos: as que eu uso em casa, as que eu uso pra sair e as que eu raramente uso. Entende? Só é bagunça pra você, que está fora da minha mente.

Enfim, estou falando demais. Quer alguma coisa pra comer? Ou beber? Ah, só um café? Sem açúcar? Ótimo. Você é como eu. Sabe, a maioria das pessoas não entendem que existem vários sabores e que o doce é apenas mais um deles. Quando a gente aprende a apreciar o amargo, vê que o doce não faria sentido sem ele. Quando a gente entende que nada é eterno, os calos fazem os pés sangrarem e até eu, que tenho medo de ver sangue, não me importo muito com isso, pois sei que logo cessa.

Mas e você? Como está? Não, pergunto como está de verdade, ciente de que pode vir uma resposta negativa. Saiba que não pergunto por mera educação, se eu abro a boca pra perguntar é porque quero saber mesmo. Se não tenho interesse, deixo isso bem evidente, você sabe disso.

Ah! Antes que eu me esqueça, venha ver a flor alucinógena que tenho no meu quintal! Ela é linda, tem um perfume muito bom!... reconheço essa expressão facial... lembrou de alguém, não é? Sempre encontramos alguém assim na vida. Beleza, enlevo, talvez faça até mal, mas nem dura muito. E quando morre, ficamos nos perguntando: "que delírio foi esse?!" Todo mundo encontra uma trombeta-de-anjo em sua vida. Se alguém diz que não, é porque AINDA não encontrou.

Ah, já vai embora?... tudo bem, entendo que a vida corre e você precisa ir. Mas olha: não esqueça de respirar e notar que está respirando pelo menos uma vez ao dia. Até logo, agradeço a visita!

22/09/2020