Ciência x Realidade
As ciências são um conjunto de perspectivas da realidade. Esta é observada desde inúmeros pontos de vista que nada mais são do que recortes, limitações da percepção do real circunscrito pelos objetos de tais ou quais ciências. Trocando em miúdos: a Matemática, por exemplo, descreve a realidade a partir da análise dos padrões meramente numéricos que podem ser observados. A realidade para essa ciência, portanto, só é composta por todos os elementos passíveis da matematização, da mensuração das suas dimensões. No entanto, dizer que a porção não matematizável da realidade não existe ou, se existe, não tem objetividade relevante tanto quanto os objetos da Matemática, é uma ideia monstruosamente esdrúxula. Tomemos a Pirâmide de Gizé, no Egito, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Podemos, naturalmente, estudar as diversas relações matemáticas presentes naquela enormidade de objeto. Relações, aliás, que possibilitaram a sua construção. Há ali presente inúmeras relações trigonométricas, inúmeras relações entre constantes matemáticas como, por exemplo, o número Pi (3,141592654...). Há também relações matemáticas com a disposição de certas constelações no céu, como a constelação de Órion, e com os pontos cardeais, com a inclinação do eixo azimutal etc. Entretanto, esta perspectiva matemática do objeto não o revela em sua totalidade.
A Pirâmide de Gizé, obviamente, não é vista somente a partir da perspectiva matemática. Há ali a Geologia nas enormes pedras que a compõem, há a Sociologia e a Política na quantidade formidável de pessoas que trabalharam na sua edificação, há a Religião presente no significado dos símbolos do enorme túmulo, há a Psicologia na consciência de todos aqueles que têm a grata sorte de contemplar o monumento, há a Cosmologia, a Alquimia e a Astrologia em todos os elementos transcendentes. Dizer que Gizé só existe enquanto realidade matemática é a mesma coisa que dizer que ela só existe enquanto abstração, não como realidade. Aliás, onde é que encontramos, no cotidiano, triângulos, círculos e quadrados perfeitos, tais como os imaginamos em nossas abstrações matemáticas?
Desse modo, podemos aplicar o mesmo raciocínio quando refletimos sobre a Economia, a Política, a Biologia, a Química, a Geografia, a Física... a Matemática. Todas as ciências são válidas enquanto instrumentos de análises de porções recortadas da realidade, não como fatores determinantes da objetividade do real. O real, aliás, transcende nossa mera percepção temporal das coisas. Objetivamente, só quem tem o domínio da perspectiva onisciente da realidade, para além dos limites do espaço e do tempo, é quem vê todas as coisas na sua forma plena, completa, sem recortes, sem lacunas. Nossa visão é limitada pela nossa própria natureza. Aceitar a presença do elemento de mistério é o primeiro passo para começar a entender as coisas.