Entre nós
A vida é um florescer dos fatos que nos exploram com uma curiosidade infantil, como crianças que habitam um mundo que jaz na pureza dos atos conhecidos e ou desconhecidos
Entre nós, no vão das palavras soltas que nos resgatam de um penhasco amigo, uma visita do passado enxuga nossos inúteis corpos molhados de culpa, enxugando cada gota como se alguém cessasse toda umidade escorrida do fundo de um olhar e extraísse toda instância que deleita nos seios de um lugar reminiscente que reproduz filmes e ideias subsistentes outrora.
Os anos, como cobradores de um fim, correm atrás de nós, insistem em rir de nossa face enxuta condenada ao fracasso ou ao sucesso, a sabedoria ou a velhice. Trazem consigo, em bandejas de grafeno, cartas de outras épocas. Épocas que não contávamos as areias que pouco a pouco alcançavam o fundo da ampulheta e ainda formavam uma elevação no espaço... Horas herdadas naturalmente sem preceder a vida. Momentos que não conhecíamos, pois estávamos imersos em distrações efêmeras que hoje sabemos que não se resumem a nada. Essas cartas escritas com pigmentos do sangue dos imperceptíveis detalhes do momento é bem mais que um convite a retroceder ao princípio, que suspeito que esteja mais que incompleto: está indefinido, pois escolhemos avançar nas águas turvas de um futuro próximo e indeterminado e subsequentemente envelhecemos com a visão moldada com uma íris completamente vazia.
Entre nós restam apenas reticências descendentes do movimentar. As Reticências silenciosas que propagam apenas a passagem do abstrato para o real, ainda são divisões de algo muito maior que está desconhecido, está por vir e contido nos dedos que seguram as poucas verdades que conhecemos por nome.
Existe um castelo de subjeções escondido em nosso subconsciente. Dentro deste há um escritório que arquiva as realidades deduzíveis por algum sentido inconstante e assim, libertamos pássaros azuis de suas gaiolas enferrujadas pelas lágrimas decorrentes da penitência da saudade... “tudo é vaidade”, mas as saudades não são somas e sim integrais, e por vezes nos vemos somando ao que queremos ver, e não ao que temos que ver. A saudade é a integração em relação ao tempo e a derivação em relação à rotas que certamente se farão diante de nós.