Apenas Nosso
Talvez o nosso corpo seja a única coisa que possamos dizer que de fato é nossa, que ninguém nunca poderá roubar, tirar de nós, arrancar de nossas mãos. Nosso corpo é tudo o que temos, nascemos com ele, vivemos com ele e morreremos com ele. Nosso constante companheiro nessa longínqua caminhada que temos a trilhar. Nosso confidente mais fiel. Sabe de tudo, conhece tudo, vive tudo conosco. Nossas lágrimas ele assistiu, nossos sorrisos ele contemplou, com nossas conquistas ele vibrou e com nossas perdas ele se entristeceu. Nosso maior amigo. Nosso mais íntimo e verdadeiro amigo. Tudo o que temos. Tudo o que somos.
Infelizmente, no entanto, o destratamos, desvalorizamos, fazemos por menos. Olhamo-nos no espelho sempre à procura de defeitos, sempre em busca de comparações com aquela imagem que vimos na capa de uma revista ou com milhares de curtidas em uma rede social e procuramos por similaridades, por igualdades, e, ao não encontrarmos o que ansiávamos achar, fechamos a cara, torcemos o nariz, tratamos de nos afastar do espelho, de evitar as fotografias, tudo para que não sejamos martirizados pela imagem que em nada nos agradou. Então enlouquecemos. Não conseguimos fazer o menor dos elogios a nós mesmos, não conseguimos demonstrar o menor dos carinhos a nós mesmos, parece que se pudéssemos abandonaríamos essa carcaça na estrada e correríamos atrás de algo melhor. Somos cruéis contra nós mesmos. Causamos o nosso próprio sofrimento.
Já é clichê dizer que aqueles corpos são montagens, inexistentes, que estão carregados de efeitos. Talvez até sejam verdadeiros, mas para se sustentarem tiveram que se submeter a procedimentos dolorosos, a sacrifícios que ninguém deveria se sentir pressionado a fazer. Muitos corpos são terrivelmente desrespeitados na ânsia pela perfeição, pelo ideal a ser atingido. Muitos corpos não suportam a pressão e acabam desfalecendo antes do que era esperado. Em outros casos alguém tenta incansavelmente alcançar o inalcançável, acaba frustrado pelo sentimento de fracasso que experimenta, não percebe que construções como essas não passam de propagandas veiculadas por indústrias que têm muito a ganhar com a opressão que podemos garantir a nós mesmos.
Você precisa respeitar a sua casa. Você precisa amar, sobretudo, o seu templo. Você precisa aceitar o seu corpo, como ele é, com as manchas que tiver, com as dobrinhas que exibir, com as “imperfeições” que apresentar. Deveríamos mesmo chamar de imperfeições? Não seriam características únicas, vistas em mais ninguém, que nos tornam especiais e singulares de certa forma? Não que seja abominável fazer uso de uma maquiagem ou se matricular na academia ou ter uma rotina diária de exercícios ao final da tarde, tudo isso é muito importante, não para a estética simplesmente, mas, principalmente, para o nosso próprio bem estar físico e mental, para a nossa própria saúde.
Um corpo bonito não é um corpo entupido de hormônios, silicones ou seja lá o que exista nessa indústria que escraviza as pessoas através de seu psicológico. Um corpo bonito é um corpo respeitado, que está em harmonia com aquele que nele mora. Não persiga construções que não pode alcançar, conhecemos os nossos limites e seria muito bom se conseguíssemos respeitá-los. Não ultrapasse essa linha em busca de aprovação, em busca de repercussão, em busca de números nas redes. Busque pela sua própria satisfação. Sente-se bem como é? Aproveite a maravilha de ser. Tem algum incômodo com a sua aparência? Que tal resolver isso de maneira sensata, que traga um prazer apenas seu? Precisamos nos respeitar, precisamos nos valorizar como somos. Nosso corpo é tudo o que temos. Talvez seja a única coisa que teremos até o último segundo de nossas vidas. Ame-o. Aceite-o. Entenda-o. Não tenha medo de tocá-lo ou apreciá-lo, ele é seu, somente seu, cuide bem dele.
(Texto de @Amilton.Jnior)