Notas - de quando minha namorada quase me chutou

A gente só sente que tem uma perna quando algo incomoda ela, do contrário a existência do membro passa despercebida - afinal de contas, quem fica observando a perna e refletindo a existência dela em condições de normalidade? Se fazes isso eu recomendo terapia.

Quando topamos nos damos conta de que temos um pé, porque agora estamos notando-o pela dor! Quando adoecemos, por exemplo, de uma gripe, reparamos que não mais respiramos bem, que o nariz entupido dificulta a entrada e saída de ar e que o pulmão empanturrado de secreção faz o mesmo. É aí que sentimos falta da boa saúde, que, enquanto a tínhamos, não dávamos grande importância. O mesmo, me atrevo a dizer, se aplica às pessoas, dentro das relações conjugais, familiares e fraternais.

Quando temos alguém que amamos - e com ter eu não me refiro à posse - não reparamos no quão bom e proveitoso é ter essa pessoa conosco, no quão satisfatório, embora imperceptível, é a presença dessa pessoa, que nos dá alento, companhia e atenção, sendo este último o que mais nos cativa. Não notamos tais coisas, ou notamos pouco, quando deixamos as coisas caírem numa rotina de ações mecânicas que antes eram pensadas milimetricamente, pormenorizada, detalhe por detalhe! Mas que agora, depois de um tempo, tornaram-se ações automáticas, sem vivacidade e reflexão.

O interesse e o tesão Inicial na pessoa se dissipam com o tempo, isso torna nossos atos monótonos e não notamos isso até que, abruptamente, a pessoa se vá ou fique na eminência de ir-se. Eu quase perco minha amada por conta disso, pois deixei de ter o zelo que tinha no começo de tudo isso. Felizmente - ao menos para mim - tive chance de me redimir. Mas e você, vai esperar perder a perna para reparar no quão mágico e gracioso é correr livre na areia da praia?

Augustophilo
Enviado por Augustophilo em 11/10/2020
Código do texto: T7084586
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