Pitacos

Não peça conselhos a quem não fez o que você quer fazer melhor do que você. A palavra "conselho", originada do latim, "consilium", designava o local onde os magistrados da pólis deliberavam sobre as mais importantes questões referentes à administração da comunidade. O conselho era a congregação dos juízes que, para exercer tal ofício, passavam pelo crivo da sabedoria, da prudência, do bom senso, do tino. Só se pede conselhos a quem sabe como fazer; a quem conquistou o domínio completo daquilo que também é objeto do seu interesse. Quem deseja ser advogado não pedirá o juízo de um jardineiro, porque não há garantias de que quem bem maneja o regador por cima das samambaias saberá manejar os critérios jurídicos de defesa ou de acusação perante um tribunal.

Ele é um jovem escritor, a quem deve pedir conselhos? Primeiro, aos grandes escritores, àqueles que elevaram o idioma aos píncaros da expressão da condição humana. Aos grandes mestres. Ele deve imitá-los, imitar os vários estilos diferentes. Com isso, o aspirante formará o seu próprio estilo, com este diálogo de vários estilos diante de si. Depois, o jovem escritor deve procurar bons escritores que lhe sejam contemporâneos, que lapidaram os seus estilos também através da assimilação dos grandes mestres. Um rapaz bondoso, mas ingênuo, que desejava muito tornar-se escritor, um escritor lido, comentado, referenciado, em suma, um escritor de sucesso, caiu na besteira de revelar esse seu sonho íntimo à uma colega de trabalho, para quem pediu conselhos. A moça, que não escrevia e tampouco lia, começou por dizer, com ares de erudição, as mais disparatadas invencionices, com o intento de desiludir o aspirante do seu sonho. E, como a burrice anda de braços entrelaçados com a maldade, não eram conselhos que a moça dava, eram pitacos.

Vitor Marcolin
Enviado por Vitor Marcolin em 02/10/2020
Reeditado em 02/10/2020
Código do texto: T7078095
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