Pra Fora
É estranho escrever quando você passa muito tempo sem reproduzir uma única silába. Claro que não qualquer silába, digo, silábas póeticas, aquelas que soam como um canto solitário, um canto que só uma pessoa ouve e aqueles que vem depois só intepretam. Muito barulho num único instante, tumultuo de vozes, todas em conjunto, se entrelaçam, se fundem e se confundem. Quando parei de ouvir? Minha esquizofrenia é o que mais sinto falta de meu antigo eu. Eu que não sei se está somente no passado ou se carrego ainda. Que direito eu tenho falar de EU? Nem sei direito o que é, alguém cujo sonho sempre foi ser um escritor, alguém que sempre viveu no mundo da lua, que criou castelos e heróis invisiveis, esse eu que muda mais que borboleta dentro de casulo, esse eu que vive um ciclo sem fim de monotonia. Eu, eu, eu, eu. Tantos eus. Qual deles será o impostor? Ou seria todos? Pareço um impostor escrevendo. Você não é mais um escritor. Você já se descolou disso. Passado. Mas ainda, ainda as vezes eu quero vir aqui. Eu quero digitar. Eu quero soltar algo, algo, qualquer coisa, não faço ideia o que, nunca tenho, só algo, se algo saísse dentro de mim seria o suficiente. Algo. Algum sentimento. Por favor, palavras, voem, saiam, floresçam dentro de mim e jorrem para fora num jato de tinta escura e sombria. Faça eu me sentir mais vivo, com mais sentido, um fucking sentido, um pingo de alegria talvez, algo que me faça olhar, olhar e ver, eu ainda tenho isso, eu não perdi, pelo contrário, eu cresci e agora, novamente, eu posso ser, somente ser, ser nem que seja só aquele minuto sendo. Nem que seja por poucas linhas.