Vício
A palavra vício é apenas uma outra qualquer para quem não o vive.
Assim como miséria, ansiedade e uma infinidade de palavras.
Quando pronunciada, jamais é compreendida em sua magnitude.
O cérebro nos dá entendimento das coisas, mas o coração que nos faz dar significado e ajuda a memorizar cada momento de prazer. Não adianta o cérebro memorizar e a memória não ter significado algum. Isso só o coração pode fazer.
E quando ele bate mais forte quando lembramos das gotas de álcool descendo na garganta e você saboreando cada gole?
E quando bate mais forte quando come aquela carne pingando de sangue e com muita gordura?
E se bate mais forte quando lembro de momentos prazerosos que tive ao lado de uma pessoa, mas que aconteceram depois de discussões dilacerantes e decadentes?
A adrenalina vicia. Vicia discutir porque logo depois tem flores, palavras de amor e uma comida bem feita.
Há muita tensão, mas os dias são preenchidos vinte e quatro horas por palavras trocadas. "Bom dia", "boa noite", "saudades", "você é tudo pra mim", apelidos carinhosos e tudo mais.
Há noites mal dormidas e a garganta entalada de palavras não ditas.
Há trocas de mensagens dele(a) às escondidas.
Há medo atrás de medo por pura preservação emocional. "Não conto isso porque pode dar briga".
Há escolhas feitas temerosas de compartilhamento.
Há sorrisos que disfarçam angústias.
Há desentendimento sobre si a todo tempo: o que eu quero?
Por trás de tanto desamor e sofrimento, há palavras acolhedoras e cuidadosas, momentos a dois que só eles conhecem.
Palavras de amor compartilhadas na internet interpretadas como "foram felizes para sempre". Mal sabem que este sempre e sempre está prestes a acabar e "volta e meia" por um fio.
Isso tudo também é vício, mas é um vício tolerado depois de ver tantos contos de fadas e 50 tons de cinza na televisão.
Esse vício só quem viveu sabe e entende.
O sofrimento jamais foi (e será) bem quisto. O prazer está na presença que não enxergamos como ausência, nas palavras que gostaríamos que fossem reais, na vida a dois esperada que jamais terá (com esta pessoa).
O que tem de diferente de uma droga? Quase nada. Esta droga tem cabeça, membros e pés.