Moda: a força da mercê do vento
Sou jovem, mas meu espírito é de um senhor de oitenta anos. Cá em casa, desde que tomei consciência de mim, usamos objetos antigos, objetos de épocas passadas, objetos esquecidos e quiçá desprezados pelas criaturas orgulhosas em serem modernas. Uma máquina de escrever fabricada nos Estados Unidos no longínquo ano de 1936, que comprei de um simpaticíssimo senhor no alto de Pinheiros, outra, uma mais jovem, dos anos de 1970, comprada de um grande amigo mecanógrafo remanescente aqui em São Paulo. Uso-as quase diariamente. Fugi à regra dos amigos meus contemporâneos e aprendi a digitar no computador datilografando nessas velhas damas de ferro. Tenho orgulho de ter aprendido assim, adquiri disciplina ao escrever.
Há alguns meses, ganhei do meu avô um objeto que para mim é um tesouro de valor inestimável: seu primeiro aparelho de barbear, um Gillette de aço inox fabricado aqui no Brasil em meados de 1960. Esse simples instrumento, símbolo do quotidiano masculino, é uma verdadeira obra de arte. Não se fazem mais barbeadores como antigamente. Hoje, na era do descartável, parece que o supérfluo dos objetos ordinários invadiu também a personalidade dos seus donos, transformando-os em indivíduos rasos, mesquinhos e incapazes de uma reflexão mais profunda sobre si mesmos. O cuidado, o esmero que, por exemplo, um aparelho de barbear permanente inspiraria no homem já não acontece. Os conglomerados do mercado que se alimentam da obsolescência programada forçam uma mudança de perspectiva nos indivíduos que se servem dos seus produtos e serviços: tudo tem que ser fácil, rápido, seguro e barato. Cria-se a ilusão, sobretudo para os habitantes dos grandes centros urbanos, que a vida deve ser igualmente vaga. O impacto psicológico em quem cresce num ambiente assim é a perda do senso de sacrifício, do sentido do esforço e da realidade do cumprimento do dever.
Conservo, na minha biblioteca particular, uma coleção invejável de livros de muitas épocas. O mais antigo exemplar data do início do século XIX, uma edição francesa do clássico do escocês Walter Scott, "Guy Mannering". Há também uma edição bilíngue latim/francês do fin de siècle dos discursos de Julio César sobre a conquista da Gália. Esta é uma raridade, pois todas as edições posteriores foram publicadas em dois volumes. Vale uma pequena fortuna. Tenho também as obras completas de Machado de Assis de várias editoras e épocas diferentes. Deste, conservo orgulhoso as "Memórias Póstumas de Brás Cubas" numa belíssima edição da editora Garnier de 1925. A monumental História da Literatura Ocidental em dez volumes, de Otto Maria Carpeaux, é um dos itens mais importantes. Há também um livro didático de 1888 utilizado nas escolas paroquiais do Império do Brasil. Tenho livros de muitas épocas, não é possível falar sobre todos aqui. Certa vez, ouvi um rapaz dizer que ele jamais lia livros que não tivessem sido publicados nos últimos vinte anos. Tempus fugit, é o que diz o velho ditado.