Justiça - um pequeno ensaio
Justiça - um pequeno ensaio
Na penumbra fornecida pela ligação entre a luz e as trevas, o caboclo Ogum Delê esperava pacientemente seu amigo chegar. Ele notava com certo pesar a passagem constante das almas em direção à escuridão e ficava pensativo e triste ao imaginar que por mais que trabalhasse para que isso não fosse assim tão constante, parecia a cada dia, cada ano, cada século, aumentava de uma forma até mortificante para o que sempre se dispôs: o de salvar almas, o quanto pudesse.
Era o seu trabalho.
Uma luz se abriu nas trevas e seu amigo apareceu. Grande, alto, vistoso, vestindo uma longa túnica preta com alguns tons roxos entremeados. De fato era uma visão grandiosa e o caboclo sabia disso, pela força que irradiava.
Tranca Ruas.
Quando o olhar do caboclo cruzou com os do exu houve a compreensão mútua. Não era preciso falar nada.
Mais um humano tinha pedido para o caboclo fazer o mal para alguém e diante da recusa, foi procurar os serviços das trevas. O caboclo tinha seguido o sujeito e fora testemunha muda daquele que renegava os Ensinamentos.
Houve um silêncio momentâneo e constrangedor entre os dois. Em seguida, em algo que parecia ser um suspiro de rendição, Tranca Ruas fez um gesto cruzado com as mãos e abriu um portal para a luz. Num movimento gracioso o exu ganhou a dimensão.
Ainda observando as almas aflitas indo de encontro com as trevas, o caboclo sabia que mais um humano iria provar da justiça de um exu.