minha sensibilidade
minha sensibilidade não alberga crânios fossilizados na memória da terra.
esse espaço insosso de eterna repetição.
nem o enredo das estórias mágicas e conservadoras
onde todas as pálpebras são costuradas
para a projeção vaporosa do futuro.
esse futuro que me abre um vácuo extenuado no peito.
minha sensibilidade não se babuja no complicado processo do prazer,
essa dilatação orgânica onde esquecer é uma fenda viciosa no tempo.
disponho de pouco recurso para a minha sensibilidade.
minha sensibilidade não dispõe de meios para me contar
sobre as relações simples das forças emancipadas.
como estar inscrito em folhagens amareladas de luz solar
prestes a sucumbir.
como vestir a noite esponjada de luz lunar,
beijando águas de rios, mar e lágrimas, essa liquefação de afetos.
sou alguma coisa que não pode entrar em tardes rachadas por cigarras.
minha sensibilidade se alastra em tal atmosfera
que é forma e vibração do que sou e testemunho,
por trás de minha precária aparelhagem de sentir.
minha sensibilidade é para a ciência
o que se convencionou chamar de impressões sensíveis.
só que não!
minha sensibilidade não tem terminologia.
minha sensibilidade é o outro lado dos contornos do mundo.
sobre o que sei a seu respeito, vira poesia e ubiquação.
igual a pedra. igual ao vento.