Vejo Pessoas
Somos diferentes. Quanto a isso não há o que questionar, não podemos contestar esse fato, ele é verdadeiro e irrecusável. Mas ainda assim, apesar de nossas infinitas diferenças no modo de falar, de andar, de sorrir, de olhar, de pensar, de se comportar, de encarar a vida, de entender o mundo, de enfrentar os sofrimentos, de suportar as dores, de experimentar as alegrias, de desfrutar das conquistas, temos uma grande e também inquestionável igualdade, talvez nossa única fatídica semelhança: somos pessoas. As lutas sociais existem, e é importante que existam, é de suma importância que o movimento negro conquiste seus direitos, que o feminismo contribua para que a mulher consiga sua emancipação, que a comunidade LGBT proteja os seus integrantes e que tantos outros movimentos se expressem, resistam e persistam. Mas eu me recuso a ver meus semelhantes através de rótulos. Eles não são simplesmente os negros, os gays, os estrangeiros, os mendigos, os miseráveis, as donas de si. Eles têm nomes, sonhos, projetos, razões, objetivos, vontades, desejo por uma vida plena, autêntica e feliz. Chamam-se Roberto, Helena, Guilherme, Eduarda. São pessoas. E é assim que os vejo. Como pessoas. Dignas de todo o respeito, de toda a admiração, dignas do direito de serem pessoas e viverem como as tais.
Somos tão incontestavelmente diferentes, para quê tentar padronizar? Para quê impor um uniforme? Se observo um quadro monótono, cujas formas não se alteram, cujas cores não se misturam, caio no tédio, perco o interesse, desvalorizo. Mas um quadro variado, abstrato, mesmo que com diferentes tonalidades de uma mesma cor, é capaz de me puxar para si, de me convidar à apreciação, de me segurar por bons instantes. Terei algo a descobrir, a conhecer, a estudar, a analisar, a entender o porquê. Em coisas que seguem predeterminações já sei qual será o final, perderei meu tempo?
As pessoas são diversas e estão aí para serem apreciadas a partir de suas singularidades, de suas histórias, de suas construções e desconstruções. Alguém diferente de mim pode até mesmo me ensinar sobre mim mesmo além de me permitir entender a maravilha que é ser ele. É maravilhoso sermos nós. É belíssimo que cada um tenha seu próprio caminho, sua própria maneira de existir, contribuindo para o grande quadro da humanidade. Rótulos não me servem, uniformes me assustam e caixinhas são tão sem graça. O mundo só é interessante porque as pessoas, interessantemente, são únicas em sua essência, em sua personalidade, são únicas em si mesmas.
Olhe para as pessoas. Não procure por rótulos, aquelas fitas de papel que envolvem a embalagem especificando cada detalhe, através dos quais você concluirá se leva ou não para casa. As pessoas não podem ser especificadas. Simples descrições não dizem quem as pessoas verdadeiramente são. Você pode perder oportunidades incríveis de conhecer pessoas maravilhosas por causa do seu preconceito irracional. Respeite nossas diferenças. Elas nos fazem ser quem somos. Elas nos tornam únicas. E tornam únicos aqueles que amamos e dizemos que são insubstituíveis. São insubstituíveis porque são singulares, com suas próprias diferenças. Ao invés de repudiá-las, aprenda com elas, seja melhor, evolua ao ponto de ver além da cor da pele, do gênero, da condição social ou da orientação sexual. Eu vejo pessoas, e você?
(Texto de @Amilton.Jnior)